A partir da doação do leite materno, milhares de crianças prematuras, que não puderam ser amamentadas pelas suas mães, podem ter as suas vidas salvas com um gesto de amor simples e necessário. Só na capital federal, 13.279 bebês puderam ser alimentados em 2022, possibilitando a continuação da vida e o desenvolvimento destes pequenos.
Porém, a quantidade de leite materno que foi doada no ano passado foi menor do que em 2021. De janeiro a novembro, a Rede de Banco de Leite Humano do Distrito Federal recebeu 16.795,6 litros, provenientes de 6.461 mulheres. Em comparação, no ano retrasado, o total recolhido foi de 17.651,8 litros.
Ambos os anos não foram capazes de ultrapassar a meta estipulada pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), que é de 24 mil litros anuais, ou seja, dois mil por mês, que tornaria possível o atendimento de crianças internadas, além de possibilitar uma reserva útil para novos atendimentos. A média mensal das doações recebidas em 2022 foi de 1.528,8 litros.
Em 2022, o GDF lançou um aplicativo para doações
O cumprimento das médias locais possui uma importância significativa para todo o país. A rede de banco de leite humano do Governo do Distrito Federal é reconhecida nacionalmente, já que Brasília é considerada a Capital dos Bancos de Leite e é classificada como uma referência a ser seguida pelo Ministério da Saúde.
O DF também é pioneiro no lançamento do primeiro site de captação de doadoras no país, já que, em maio do ano passado, a SES/DF lançou o aplicativo “Amamenta Brasília”, que motiva outras mulheres a doar um pouco do seu leite materno para outras crianças. Até o momento do fechamento desta reportagem, 76% da meta proposta pela iniciativa já foi alcançada.
A plataforma está disponível na App Store e no Google Play, e por lá, as doadoras podem tirar dúvidas, se cadastrar no sistema de doações, informar o local de retirada do leite materno e solicitar o recebimento de potes de vidro para o armazenamento do líquido.
Como doar?
Quem pretende fazer uma doação, pode fazer a coleta no conforto da sua residência por meio de um processo rápido. Porém, é preciso seguir algumas instruções de segurança para garantir que os pequenos beneficiários tenham o maior proveito dos nutrientes recebidos. De acordo com a SES/DF, é preciso, antes de tudo, que as doadoras procurem retirar o leite materno em um lugar limpo e tranquilo das suas casas.
É preciso utilizar potes de vidro que podem ser facilmente adquiridas em lojas de utensílios domésticos, ou solicitados gratuitamente pelas mães a partir do aplicativo Amamenta Brasília, onde elas recebem o recipiente no conforto de suas casas. As doadoras devem estar atentas ao fato de as tampas serem de material plástico, pois as de metal podem infectar o leite materno por tétano.
Os potes devem ser fervidos por 15 minutos, e depois embrulhados em um pano limpo para que esteja completamente seco durante o início da coleta. Para evitar qualquer tipo de contaminação durante o processo de extração, é recomendado que a doadora utilize uma touca ou um lenço na cabeça, além de uma máscara no rosto. Também é preciso lavar as mãos e os braços com muita água e sabão, e as mamas unicamente com água.
No momento da coleta, massageie os seios com a ponta dos dedos em movimentos circulares, e comece o despejo diretamente no pote de vidro. Encha o resíduo até faltarem dois dedos para o seu completo enchimento. Após o término, feche bem o recipiente e o identifique com o seu nome e a data em que foi realizada a retirada do leite materno.
Por fim, coloque o pote no congelador ou freezer, onde ele poderá ficar por um máximo de 10 dias. Não é necessário levar a doação para algum local, já que uma equipe do Corpo de Bombeiros Militares do Distrito Federal (CBM/DF) irá buscar o leite materno diretamente na sua casa. Agende a sua coleta no número 160, opção 4, ou se cadastre no endereço virtual do Amamenta Brasília, a partir do link: http://amamentabrasilia.saude.df.gov.br/.
Um ato de amor
Para compreender mais os efeitos da baixa coleta na capital, a equipe do Jornal de Brasília conversou com a pediatra Vanessa Macedo, coordenadora científica da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal (SPDF) e que atua na linha de frente das campanhas de doações no DF. Segundo ela, é comum que o recebimento de leite materno seja menor no período de férias, mas afirma que o momento atual clama pela participação das mulheres que podem contribuir com a saúde dos recém-nascidos.
“As mães saem da rotina de extrair leite para doar, por isso que o nosso estoque abaixa muito nessa época de fim de ano. Só que os bebês prematuros continuam nascendo, continuam ficando doentes, então, as nossas UTI’s neonatais continuam lotadas. Os bebês não tiram férias”, afirma.
A doutora trabalha no setor de coleta de leite materno do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), e diz que, em situações mais drásticas, o estoque reduzido pode fazer com que o volume de leite materno seja racionado entre os bebês prematuros internados. “A gente começa a campanha justamente para que não chegue neste ponto”, explica.
Quando chega a este ponto, o leite materno é misturado com algumas fórmulas artificiais que não possuem o mesmo valor nutritivo e imunológico para os recém-nascidos. Segundo ela, o HMIB ainda possui um estoque armazenado que permite que todos os internados recebam uma quantidade do líquido biológico. Porém, caso a coleta não aumente, será necessário recorrer à estratégia de racionamento.
“Quando está em falta, a gente tenta diminuir o volume que cada um recebe, para que todos possam receber. Isso em situações mais drásticas, que é muito raro de acontecer. […] O que a gente tem armazenado, a gente ainda está conseguindo, mas, se a coleta não aumentar, pode ser que a gente não consiga distribuir para todos”, analisa a pediatra do HMIB.
Por isso, a doutora destaca a importância do papel das mães que estão amamentando e que podem fazer as doações que, segundo ela, é mais do que uma ajuda, significando “um ato de amor” com as jovens vidas que mais necessitam. “O leite materno reduz o tempo total de internação e o número de infecções dos bebês prematuros. As mães que possuem um tempo para doar, vão ajudar muito na vida em longo prazo desses bebezinhos”, conclui Macedo.
Por Redação do Jornal de Brasília
Foto: Davidyson Damasceno/Iges-DF / Reprodução Jornal Brasília