A vida deu uma nova chance e estas pessoas a aproveitaram em 2023

O Correio ouviu histórias de pessoas que superaram obstáculos materiais e de saúde e concluíram um ciclo exitoso

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Após uma dor latente do lado esquerdo do corpo, que se confundiu com desconforto estomacal e gerou uma forte sensação de engasgo, Janaína Vasconcelos, 44 anos, desmaiou e só acordou no hospital. Em maio deste ano, ela sofreu um infarto. Os médicos descreveram o caso como um milagre, uma vez que, após uma bateria de exames, algumas taxas metabólicas estavam condizentes com uma pessoa em óbito. Depois do acontecido, Janaína sente que renasceu.

Apesar de ter duas tias que morreram de infarto fulminante, Janaína nunca tinha apresentado nenhum sintoma de problemas cardíacos. O primeiro episódio foi esse. “Graças a Deus, o Samu chegou rápido na minha casa e prestaram os primeiros socorros. Meu tio me levou ao hospital, já que os socorristas vieram de moto e a ambulância ainda demoraria para chegar”, contou. “A dor que senti foi tão forte que eu me contorcia no chão. Cheguei a querer morrer só para me livrar daquela dor insuportável”, descreveu.

Quando a curva de troponina, uma enzima encontrada no sangue, encontra-se acima de 99, significa que o paciente está sofrendo um infarto. A de Janaína estava acima de 2 mil. Ela ficou uma semana na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e relembra que, pelos relatos de médicos e enfermeiros, o caso é inexplicável. Janaína não bebe, não fuma e pratica ciclismo. Por isso, o episódio foi inesperado. “Tenho dois filhos e o meu sonho sempre foi vê-los formados. Cheguei a pensar que não veria. Nasci de novo”, diz. “Hoje, sou só gratidão, 2023 foi o ano do meu renascimento”, conclui.

Conquistas

Para o agente administrativo Adam Vitor Ferreira, 27, o ano foi de vitória tripla. Deu entrada na casa própria, começou a faculdade de administração e fez a cirurgia de mamoplastia masculinizadora. Homem trans, ele sonhava há anos com a retirada dos seios cirurgicamente. “Foi transformador. Um grito de liberdade”, comemora.

Oriundo de uma família simples de São Miguel do Araguaia, em Goiás, Adam saiu de casa aos 16 anos e se mudou para a cidade grande. “Como todo brasileiro, sempre sonhei com a casa própria. Para mim, 16 de setembro de 2023 vai ficar marcado para sempre como o dia em que me mudei para o meu apartamento de dois quartos no Jardim Ingá.”

No entanto, nada veio fácil para Adam. Além de ter batalhado até conseguir dar entrada no imóvel, também passou por uma luta na Justiça para conseguir fazer a tão esperada operação. “Com ajuda da Defensoria Pública do Distrito Federal, consegui que a minha cirurgia fosse 100% custeada pela rede pública do DF. Mais uma conquista para celebrar”, afirma.

Valor à vida

A imprudência de um motorista embriagado que resolveu fazer cavalo de pau na saída de uma festa quase custou a vida do empresário Davi Daniel, 23, passageiro de um veículo de transporte por aplicativo que passava na hora e se chocou com o carro que fazia a manobra ilegal.

Os outros dois passageiros do veículo também se feriram, mas o mais prejudicado foi Davi, que estava do lado esquerdo — o que se chocou contra o outro automóvel. Os resultados foram traumatismo cranioencefálico, inchamento do cérebro, rompimento dos ligamentos dos neurônios e duas costelas quebradas, que perfuraram o pulmão em dois lugares. Foram 16 dias de coma induzido e um mês no hospital.

“Minha família viveu dias muito tensos. Os médicos falaram que, se eu não reagisse nas primeiras 72 horas após o acidente, iam declarar morte cerebral. Graças a Deus, reagi e hoje estou vivo e sem nenhuma sequela. Não perdi a memória, estou caminhando e vivendo minha vida normalmente”, destaca.

Superar o impacto do acidente não foi fácil. Devido às lesões no cérebro, o lado esquerdo do corpo foi prejudicado. Ele passou por fisioterapia e terapia ocupacional para recuperar os movimentos. Foram 33 dias no hospital. A alta veio na véspera do aniversário.

Davi relata que ressignificou muitas coisas após a experiência traumática.”Vejo esse acidente como uma experiência de vida. Antes, eu era muito egoísta, pensava só em mim e não valorizava muito as pessoas à minha volta. Depois do acidente, percebi que sou uma pessoa muito amada. Mudei como pessoa, estou mais amoroso com todos à minha volta. Estou mais compreensivo, dou mais valor às pequenas coisas. Tudo isso serviu para unir minha família e as pessoas que me cercam”, avalia.

“Tive uma nova chance. Eu só sei agradecer, o meu sentimento maior hoje é de gratidão pela vida e por tudo”, compartilha Davi.

Por Mila Ferreira do Correio Braziliense

Foto: Arquivo pessoal / Reprodução Correio Braziliense

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