Entre desafios e conquistas: a força da mulher na segurança pública do DF

Por vezes subestimadas, elas ultrapassam barreiras e ganham destaque no meio profissional. Nos Bombeiros e nas polícias Militar, Civil e Rodoviária, elas são minoria, mas essenciais para a atuação das corporações

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Elas fazem a diferença e são referência de força e determinação. São mulheres que arriscam a vida para salvar outras, precisam conciliar a vida profissional, a casa e a família. Por vezes, são subestimadas no meio em que convivem a maior parte do tempo: o trabalho. Mas os entraves viram “fichinhas” quando comparado ao esforço e competência protagonizado pelas mulheres das forças de segurança. No DF, o total de policiais militares, penais, e bombeiros é de 18.245 servidores. Desse total, 3.129 são do sexo feminino (veja números nas corporações). Até o fechamento desta edição, a Polícia Civil não enviou seus dados. 

Letícia se sente realizada na corporação. Ela conta que muitos são os questionamentos sobre as diferenças de tratamento entre homem e mulher. “Existe um certo preconceito velado. São piadas, gracinhas, mas não me importo. Levo sempre na brincadeira, porque, querendo ou não, é uma profissão que exige força física”, afirma. A policial atua na Rádio Patrulhamento e se depara com todo tipo de ocorrência possível, das mais simples às violentas. “Vi de tudo, da dor e sofrimento de ver uma criança passar fome até mulheres sendo agredidas pelos companheiros. O que posso constatar é que toda família que tem um grau de violência doméstica, tem droga e bebida no meio. A segunda prova é que, na maioria dos casos, são as mulheres que sustentam a casa, seja com o auxílio recebido pelo governo ou com o emprego suado”, avalia.

Persistência

Débora Martins Costa, 36, é bombeira há 10 anos no DF. Estar na profissão admirada pela população não era o sonho. Ela seguia a carreira de advogada, até o pai, que é major do Corpo de Bombeiros, inscrevê-la no concurso. “Questionei ele, porque não tinha estudado e não gosto de fazer nada sem ter estudado. Mas fiz. Peguei o edital faltando dois meses para a prova, fiz uma breve revisão e vi que era praticamente matéria de ensino médio. Falei ao meu pai que eu iria pelos meus conhecimentos do ensino médio e que fosse o que Deus quisesse. Antes da prova, orei e pedi a Deus que fosse feita a vontade Dele”, relembra.

Aprovada, Débora se submeteu a vários cursos de formação na corporação — busca e resgate em estruturas colapsadas; operacional de produtos perigosos; sala meta aquática (guarda-vidas); pilotagem e embarcações operacionais; e mergulho de resgate, atual setor de lotação, entre outros.

Considerada uma das profissões mais desafiadoras, ser bombeira é enfrentar situações de alto risco, pressão constante e até colocar a vida em perigo para salvar a do próximo. Débora, que é 3º sargento e mergulhadora de resgate, sabe bem o que é isso. Uma das ocorrências mais marcantes para ela foi a do salvamento de um bebê, no Lago Paranoá. “Essa me marcou muito. Entrou para nós como se a vítima fosse um adolescente, que estaria nadando e se afogou. Enquanto eu mergulhava, encontrei o bebê. Na hora, só lembrei da minha sobrinha que havia acabado de nascer. Foi muito dolorido”, desabafa.

Débora se diz lisonjeada por ser bombeira. “Sempre fui muito dedicada e disciplinada em tudo que faço e obtenho resultados disso. O respeito que você ganha quando você mostra sua competência pelo seu serviço prestado é indiscutível”, garante. “Ser referência para muitas pessoas é um privilégio, mas exige de você lidar com a pressão de ser observada a todo momento, não tem margem para erros, você se torna um reflexo do que as pessoas esperam de você e delas mesmas, pois elas se espelham em você. Às vezes, esse fardo é um pouco pesado, mas fazer o que você gosta sempre buscando o seu melhor e voltar pra casa sabendo que a sua excelência foi prestada no serviço miniminiza toda essa pressão”, declara. 

Plantonista em escala 24 x 72, no controle dos blocos, também trabalha no serviço voluntário, no resto da semana, auxiliando na revista de visitantes. “Além disso, atuo trazendo projetos para o sistema, para a mulher. Hoje, faço parte do projeto de qualidade de vida no trabalho, que está sendo implementado. A gente está se organizando para aplicá-lo, porque o trabalho de segurança, no geral, suga muito e há um grande nível de adoecimento”, ressalta.

“Eu quero concluir nossos projetos para que as próximas policiais peguem um sistema mais ameno. A gente pensa muito em ocupar o nosso espaço para as próximas que vierem terem que lutar um pouco menos, até que um dia nós possamos parar de lutar e apenas ser”, finaliza.

Determinação

A delegada de polícia Cláudia Alcântara, 60, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil (Sindepo-DF), tem uma longa história de amor com a profissão. Iniciou a carreira como escrivã de polícia e, após 12 anos, decidiu que queria mesmo era conduzir as investigações. Formou-se em direito no Ceub e não largou os cursinhos enquanto não foi aprovada no concurso.

Ao longo dos 25 anos de carreira, Cláudia ocupou diversos cargos. Chefiou delegacias, foi diretora da Escola Superior de Polícia Civil (EsPC), corregedora-geral, subsecretária de Inteligência e secretária de Justiça. “Hoje, sou a primeira mulher a ocupar esse cargo classista que, até então, era destinado aos homens”, assinala. Cláudia foi eleita presidente do sindicato no fim de 2022.

Perguntada sobre o momento mais significativo na profissão, falou sobre a pandemia, quando tornou-se gerente de assistência ao interno e cuidou da saúde dos presidiários no complexo inaugurado para abrigar os detentos que testavam positivo para a covid-19. “Esse foi o maior desafio da minha carreira. Acompanhei a equipe que inaugurou o complexo e fui a gerente de assistência. A gente fez um trabalho bonito. Entregamos o CDP 2, no início de 2021, sem nenhuma morte”, conta, complementando que se orgulha da trajetória.

“Eu quero concluir nossos projetos para que as próximas policiais peguem um sistema mais ameno. A gente pensa muito em ocupar o nosso espaço para as próximas que vierem terem que lutar um pouco menos, até que um dia nós possamos parar de lutar e apenas ser”, finaliza.

Determinação

A delegada de polícia Cláudia Alcântara, 60, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil (Sindepo-DF), tem uma longa história de amor com a profissão. Iniciou a carreira como escrivã de polícia e, após 12 anos, decidiu que queria mesmo era conduzir as investigações. Formou-se em direito no Ceub e não largou os cursinhos enquanto não foi aprovada no concurso.

Ao longo dos 25 anos de carreira, Cláudia ocupou diversos cargos. Chefiou delegacias, foi diretora da Escola Superior de Polícia Civil (EsPC), corregedora-geral, subsecretária de Inteligência e secretária de Justiça. “Hoje, sou a primeira mulher a ocupar esse cargo classista que, até então, era destinado aos homens”, assinala. Cláudia foi eleita presidente do sindicato no fim de 2022.

Por Darcianne Diogo e Letícia Guedes do Correio Braziliense

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense

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