O período de férias, apesar de ótimo e divertido, requer mais atenção e segurança dobrada por parte dos pais de crianças e pré-adolescentes. Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que, no país, cerca de 200 mil acidentes domésticos com crianças ocorrem por ano, e nas férias escolares, esse número cresce cerca de 25%.
Segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF), os incidentes mais comuns são afogamentos, choque elétrico, corte, intoxicação, queda e queimadura. “Existem vários ambientes na casa onde podem acontecer acidentes domésticos. Banheiro, cozinha, área de lazer, área de serviço e área da piscina são alguns. Então é preciso que os pais e responsáveis fiquem vigilantes, principalmente, em relação às crianças de até 9 anos, em geral, mas com atenção especial às que têm entre 1 e 3 anos”, explica o tenente Renato Augusto.
Segundo a Associação Brasileira de Pediatria, no Brasil, esse tipo de ocorrência é a principal causa de morte entre crianças e adolescentes de 1 a 14 anos. Acidentes domésticos causam cerca de 13 mortes por dia e são responsáveis pela hospitalização de mais de 120 mil jovens todos os anos.
Prevenir é melhor que remediar
Segundo especialistas, mais de 90% desses casos poderiam ter sido evitados com medidas simples de prevenção. “O principal risco é a criança ter acesso a um material cortante, às botoeiras do fogão para ligar o gás ou até conseguir alcançar o cabo de uma panela. As queimaduras por escaldamento são uma das situações mais graves”, destaca Renato Augusto. Por esse motivo, a recomendação é usar as bocas de fundo do fogão com os cabos da panela virados para a parede, quando for necessário ferver líquidos e cozer ou grelhar alimentos.
Outro espaço comum nesse tipo de ocorrência é a área de serviço. O local oferece riscos como o fácil acesso à fiação de eletrodomésticos, produtos de limpeza, baldes com água e até o ferro de passar. Dentre os acidentes que podem ser causados por esses itens, estão choque elétrico, intoxicação, afogamento, queimadura e trauma. “É preciso atenção na área de serviço, porque uma criança de 1 a 3 anos pode se afogar num balde com água com até 2 centímetros de lâmina d’água”, explica o tenente.
Conforme explica Camila Ferrari, neuropsicóloga e especialista em neurociência aplicada à educação, esses acidentes acontecem, principalmente na faixa etária de 0 a 4 anos, devido à ausência de noção de perigo nessa faixa, bem como a necessidade psicomotora que toda criança possui nessa fase. “O correr, explorar, subir e descer, pular e pendura-se, por exemplo, fazem parte do aprendizado motor dentro dessa janela de desenvolvimento, favorecendo a ocorrência de acidentes. As quedas, queimaduras, afogamentos, intoxicações e sufocamentos são as causas de acidente mais comuns na infância, mas vele lembrar que podem ser evitados com monitoramento direto”, ressaltou a especialista.
Mãe de 3 crianças, em idades entre 4 e 13 anos, Nayara Monteiro, de 36 anos, relata que ter vivido algumas situações ‘de tirar o fôlego’ com seus pequenos. “Quedas do sofá ou da cama e cortes já aconteceram várias vezes. Como trabalho em casa, em alguns momentos já aconteceu de eu me distrair por um segundo e ser surpreendida com um choro ou grito. O coração sempre acelera nessas horas”, comenta a fotógrafa.
Para evitar surpresas, Nayara sempre tenta manter os 3 filhos juntos no mesmo ambiente. “Assim consigo ficar de olho em todos ao mesmo tempo”, conta. “Além disso, tenho estabelecidas regras básicas como: não pode subir no sofá, ir na cozinha sozinho ou sair correndo pela casa. Eletrodomésticos eles já estão cientes e bem educados de que não podem ligar ou manusear”, explicou a moradora de Planaltina-DF.
Segundo a neuropsicóloga, educação é a chave da prevenção. “Noções de segurança para os pequenos, por meio de diálogo constante, abordando prevenção de acidentes, cuidado com sua saúde e seu corpo é primordial. Podemos usar materiais de apoio como livros, vídeos e músicas, para chamar atenção para a mensagem que desejamos transmitir de forma lúdica e criativa”, recomenda Camila. “Porém, faz-se importante lembrar de que a responsabilidade com a prevenção é do adulto, e é ele quem deve cuidar dos espaços e manter os locais seguros”, reitera, pontuando algumas ações simples, como não deixar remédios ao alcance das crianças; não colocar produtos de limpeza em embalagens diferentes das originais; usar protetores em portas e telas em janelas; nunca deixar água em baldes ou tanques, além de manter fechados vasos sanitários e os acessos a piscina; usar protetor de tomadas; manter cabos de panela viradas para dentro dos fogões; não brincar em escadas ou lajes; não deixar cadeiras ou bancos próximos de janelas.
Não as deixe sozinhas!
O essencial durante o período de férias é de que as crianças sempre estejam sendo assistidas por um adulto. “É comum e compreensível que as crianças fiquem ociosas nesse período por que elas ficam muito tempo em casa. Certamente, elas vão buscar coisas diferentes para fazer por que, as vezes, nada do que tem ali disponível estão entretendo elas mais. Por isso, ao se aproximarem as férias, já começo a pensar em coisas diferentes para fazermos juntos e que vão manter eles ali no mesmo ambiente que eu”, pondera Nayara Monteiro. “Busco, sempre que possível, levar eles pra fazer atividades externas, pra gastar a energia deles e pra que eles possam aproveitar as férias também. Afinal, é pra isso que elas servem e eles precisam disso”, finalizou a autônoma.
Tal iniciativa, é justamente o que Camila Ferrari recomenda aos pais que podem optar por tirar férias junto com os filhos. “Embora a casa seja um local muito familiar, é possível utilizar a criatividade e deixar este ambiente diferente e motivador. Explorar brinquedos de diferentes formas, para além das descritas no manual, experimentar novas receitas coletivamente e transformar os espaços formais em outros nada convencionais, como planetas, florestas e fundo do mar, por exemplo, são possíveis e baratos, usando material que se tem em casa. Brincadeiras simples como estas geram conexão e curiosidade, deixando as férias em casa muito divertidas”, recomenda a profissional.
Como pedir socorro
Em caso de acidente, é possível solicitar socorro imediatamente pelo telefone 193 (Corpo de Bombeiros) ou 192 (Samu).
Por Mayra Dias do Jornal de Brasília
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução Jornal de Brasília