Para os seres humanos, o câncer é um bicho papão conhecido e assustador. Aquela enfermidade que, quando aparece, preocupa amigos e familiares. Entretanto, muitos não sabem que ele é, também, uma das principais causas de morte entre pets, especialmente no Brasil. De acordo com uma pesquisa, feita em 2021, pela Universidade Federal de Santa Maria, um a cada cinco cães vai desenvolver a doença.
Segundo a professora de medicina veterinária do Ceub Fabiana Volkweis, muitos se espantam quando descobrem que cães e gatos têm doenças similares às que acometem seus tutores, como diabetes, doenças cardíacas, insuficiência renal e câncer. “O avanço das ciências, os tratamentos, as metodologias de diagnóstico e a nutrição para os pets estão proporcionando longevidade a eles e, consequentemente, aumentando a incidência de câncer”, detalha a profissional.
Os cânceres mais comumente relatados no Brasil são os de pele e subcutâneo, de glândula mamária, hematopoiético (do sangue), cavidade oral, ósseos e genitourinários. De acordo com a veterinária, praticamente qualquer órgão do corpo pode desenvolver um tipo de câncer. Cabe ressaltar, porém, que nem todo nódulo é maligno. Por isso, Fabiana cita que os exames complementares, como a citologia e a biópsia do nódulo, são fundamentais para determinar a malignidade.
“Estudos demonstram que o câncer pode ter origem em uma única célula, de praticamente qualquer tecido do organismo, que, por algum motivo — exposição a radiações ionizantes e ultravioleta, metais pesados, vírus, bactérias, parasitas ou predisposições genéticas —, sofre mutações no DNA, gerando crescimento celular desordenado, o que dá início à doença”, explica a médica veterinária.
De início, os sintomas variam de acordo com o órgão acometido, conforme relata Fabiana. Tumores de pele podem se manifestar como nódulos (caroços), feridas que não cicatrizam, aumento de volume, de temperatura e dor. “Vômitos, diarreias, presença de sangue nas fezes, fezes escuras (como borra de café) e constipação podem ser sinais de neoplasias no trato digestivo”, detalha.
Amor de mãe!
Há quatro anos, a tutora Ana Rafaella Macedo, 43 anos, notou que o cachorrinho Sushi estava com dificuldades para se alimentar. Imediatamente, quis investigar a situação e o levou ao veterinário. “Quando fizeram o exame físico nele, perceberam os nódulos crescidos perto do pescoço, dos peito e das patas traseiras”, lembra. Em seguida, descobriram que se tratava de um linfoma, e que não poderiam operá-lo. Durante seis meses foram realizadas sessões de quimioterapia.
O shih tzu voltou a comer, a brincar e a ser ativo. No entanto, meses depois do tratamento ser finalizado, o câncer retornou. Dessa vez, infelizmente, ele acabou não resistindo. Depois de vivenciar as dificuldades e os desafios do luto, Ana Rafaella enfrenta, mais uma vez, uma situação parecida com a de Sushi. Isso porque Temaki, bicho de estimação da dentista, foi diagnosticado com câncer na bexiga.
“Ele começou a urinar com sangue. Levei ao veterinário e realizaram o exame de ultrassom. Nesse exame, identificaram um nódulo. Logo entrei em contato com a veterinária que havia cuidado do Sushi. Ela indicou a cirurgia para retirada do nódulo e a biópsia dele. O resultado da biópsia foi o câncer de bexiga”, conta Ana Rafaella.
Como tutora, ela ressalta que é muito difícil receber a notícia de que seu bichinho está com câncer. “Para mim, eles são como filhos”, destaca. Por saber que, naturalmente, os animais de estimação vivem menos, não é nada fácil descobrir que uma doença tão séria pode prejudicar ainda mais suas respectivas jornadas.
Agora, pelo menos, está sendo tranquilo, já que o câncer de Temaki é de baixa agressividade. “Acredito que ele vai ter uma expectativa de vida maior que a do Sushi, apesar de já estar com 12 anos de idade. Combinei com ele para aguentar pelo menos até os 14 anos”, brinca a tutora.
Tratamento e diagnóstico
Em relação ao diagnóstico, a médica veterinária Dayana Itai de Andrade afirma que o tutor deve levar o pet a um profissional para indicar os melhores exames a serem feitos. Em caso de aumento de volume ou de nódulo, será necessário realizar citologia (análise das células), exames de imagem, como ultrassom abdominal, radiografias torácicas ou até exames mais complexos, como tomografia computadorizada e ressonância magnética.
Ainda de acordo com a profissional, o médico veterinário oncologista indicará o melhor tratamento, que poderá ser cirúrgico, até mesmo para fechar o diagnóstico. “Às vezes, a cirurgia é curativa; às vezes, somente quimioterapia e existem algumas modalidades de quimioterapia oral em casa, injetável semanal, a cada duas semanas ou 21 dias. Depende muito do tipo da neoplasia e do estadiamento do paciente”, comenta.
Raças mais acometidas
Estudos apontam algumas raças com maior prevalência a tumores, como poodle, pastor alemão, boxer, cocker spaniel e rottweiler, conforme descrito pela médica veterinária Fabiana Volkweis. Entretanto, isso não significa que outras raças, ou até mesmo pets sem raça definida, não possam desenvolver câncer.
E nos gatos?
Segundo estudo realizado pelo Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Patos, 78% dos tumores em cachorros são malignos — entre os gatos, o índice é de 98,5. Nos felinos, as frequências de neoplasmas de pele e de glândula mamária foram idênticas (39,4% cada). Em seguida, aparecem as do sistema digestório (8,5%) e de fígado (5,7%).
Campanha
Este mês é celebrado o Novembro Azul Pet, com o intuito de conscientizar tutores e população em geral sobre a saúde dos cães e gatos machos, sobretudo em relação ao câncer de próstata e testicular.
Por Eduardo Fernandes do Correio Braziliense
Foto: Unsplash / Reprodução Correio Braziliense