Enviada especial ao Rio de Janeiro — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início à Cúpula do G20 nesta segunda-feira (18/11) com o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Durante discurso, ele relembrou que 733 milhões de pessoas passam fome no mundo, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês).
“É como se as populações do Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome. São mulheres, homens e crianças, cujo direito à vida e à educação, ao desenvolvimento e à alimentação são diariamente violados. Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível. Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável”, iniciou o presidente.
“A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais. Como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, ‘a fome é a expressão biológica dos males sociais’. É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade. O G20 representa 85% dos US$ 110 trilhões do PIB mundial. Também responde por 75% dos US$ 32 trilhões do comércio de bens e serviços e dois terços dos 8 bilhões de habitantes do planeta. Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade”, acrescentou.
O petista ainda defendeu que esse foi o motivo para colocar como prioridade o combate à fome e à pobreza, que também são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 1 e 2, da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). “Esse será o nosso maior legado”, disse sobre a presidência brasileira à frente do G20.
Lula, então, contou a experiência no Brasil. “Com a participação ativa da sociedade civil, concebemos e implementamos programas de inclusão social, de fomento da agricultura familiar e da segurança alimentar e nutricional, como o nosso Bolsa Família e o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Conseguimos sair do Mapa da Fome da FAO em 2014, para o qual voltamos em 2022, em um contexto de desarticulação do Estado de bem-estar social”, disse.
“Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas. Em um ano e 11 meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24, 5 milhões de pessoas da extrema pobreza. Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome”, emendou.
81 países
O presidente anunciou no evento que a Aliança Global já conta com a adesão de 81 países, 26 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e organizações não-governamentais.
Durante a manhã de hoje, os chefes de Estado discutirão sobre essa temática. Mais países podem anunciar a adesão à Aliança, que agora foi lançada e tem os termos de adesão e ações definidas. Deve entrar na pauta também a taxação do super-ricos, que é uma das formas encontradas para financiar a iniciativa global.
Durante a tarde, o debate segue para tratar da reforma da governança global, em especial, do Conselho de Segurança da ONU — que não possui nenhuma representação permanente de países do Sul Global.
Por Mayara Souto do Correio Braziliense
Foto: Reprodução / Reprodução Correio Braziliense