Crônica da Cidade: Aprendizado constante

É nossa obrigação buscar ativamente sermos melhores a cada dia. Isso inclui se educar, ler e ouvir a alteridade sobre o que é estar na pele de cada cidadão desse mundo globalizado

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É preciso se dar ao direito de ter raiva. De chorar, de reclamar, de colocar para fora os sentimentos que pipocam no peito. Desde pequenas, somos ensinadas a nos mostrarmos frágeis, mas ao mesmo tempo, esperam de nós que aceitemos caladas a desigualdade de oportunidades e de tratamento diante de situações em que as escolhas se mostram claramentes embasadas no machismo.

Nossos companheiros, pais, irmãos, tios e amigos, por outro lado, crescem com o choro entalado na garganta, e precisam encarar o gosto amargo de esconder os sentimentos. Exceto quando expressos de forma violenta. Reagir a frustrações com gritos, ofensas e palavrões por muito tempo foi considerado sinal de masculinidade. O que não contaram para meninos e jovens criados dessa maneira é que essas atitudes cobrariam um preço caro no futuro. São gestos que destróem relacionamentos de outra maneira com potencial de se tornarem duradouros. E o pior: machucarem as pessoas que eles mais amam.

Ao longo dessa nossa aventura pela vida, aprendemos, erramos, aprendemos com os erros e continuamos a nos reconstruir. Estamos constantemente nos tornando mais humanos, reunindo nossas falhas e nossos aprendizados. E é nossa obrigação buscar ativamente sermos melhores a cada dia. Isso inclui se educar, ler e ouvir a alteridade sobre o que é estar na pele de cada cidadão desse mundo globalizado.

Se essa é a régua que imponho a mim mesma, nada mais justo que passe a exigir de meus pares o mesmo comportamento. Um dos aprendizados desses poucos anos de vida foi justamente o de me indignar mais e com maior veemência. Chega de aceitar piadas e comentários ofensivos e machistas. Chega de ouvir calada a comentários que diminuem meu trabalho e meu esforço enquanto outros, na mesma posição social, parecem ter direito vitalício à tal regra do ‘café com leite’ das brincadeiras de infância. A vida adulta que chega com tantos ônus precisa também ter o bônus: mais empoderamento e liberdade.

Quando falo em busca ativa, quero dizer que cada um de nós deve, com propósito e boa vontade, se educar sobre relações étnico-raciais e perspectivas de gênero, que permeiam nossa sociedade. Como seres complexos que somos, não podemos nos reduzir à polarização, mas também não devemos nos acomodar em nossos privilégios, sejam eles quais forem. Se você acorda sem medo de passar fome ou de sair de casa sem sofrer algum tipo de violência, certamente usufrui de algum e pode fazer um esforço para garantir que mais gente entre nesse pacote contigo. Se gentileza gera gentileza, bem-estar também gera mais bem-estar. Para que possamos bem-viver, temos de aprender a viver em conjunto.

Por Mariana Niederauer do Correio Braziliense

Foto:  jannoon028/Freepik / Reprodução Correio Braziliense

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