Durante uma viagem de fim de semana com minhas amigas, alguns anos atrás, uma delas mencionou que estava usando calcinhas absorventes, uma alternativa ecológica para substituir os absorventes descartáveis.
Eu já havia ouvido falar delas vagamente, mas não conhecia ninguém que as usasse. E sempre fui um pouco cética – será que elas seriam suficientemente absorventes?
Minha amiga me convenceu que sim. E, desde então, aderi às calcinhas absorventes.
Hoje, quando examino as gôndolas de produtos menstruais no meu supermercado local, fico impressionada com a quantidade de opções disponíveis – muitos absorventes internos e externos (alguns orgânicos, outros não), inúmeros tipos de coletores e algumas calcinhas absorventes.
Ainda assim, 49 bilhões de produtos menstruais descartáveis são consumidos todos os anos, somente na Europa. Nos Estados Unidos, cerca de 20 bilhões deles são descartados anualmente, gerando 240 mil toneladas de resíduos sólidos.
Em todo o mundo, os absorventes higiênicos descartáveis são o produto menstrual de uso mais comum. Eles contêm até 90% de plástico e a maioria acaba em aterros sanitários.
Por tudo isso, saí em busca de saber qual o produto menstrual mais sustentável disponível no mercado.
Considerando que 1,8 bilhão de pessoas menstruam a cada mês em todo o mundo, um grupo de acadêmicos da França e dos Estados Unidos realizou uma avaliação do ciclo de vida de produtos menstruais.
Eles dividiram os produtos em quatro grupos: absorventes internos e externos descartáveis, orgânicos e não orgânicos (com aplicadores, no caso dos internos); absorventes reutilizáveis; calcinhas absorventes; e coletores menstruais.
Os coletores são feitos de borracha ou silicone macio e flexível e podem reter de 20 a 30 ml (cerca de duas colheres de sopa) de sangue menstrual. Leves e pequenos, podem durar até 10 anos.
A avaliação considera os impactos causados desde a fabricação até o descarte dos produtos, comparando oito indicadores de impacto ambiental: potencial de aquecimento global, uso de recursos fósseis, uso da terra, consumo de água, efeitos carcinogênicos, ecotoxicidade, acidificação e eutrofização – o aumento da concentração de nutrientes na água, que causa excesso de crescimento de plantas aquáticas.
O estudo durou um ano e foi realizado em três países – França, Índia e Estados Unidos.
Em todos os cenários e países, o coletor menstrual venceu com facilidade, seguido pela calcinha menstrual e pelos absorventes reutilizáveis. Em último lugar, vieram os absorventes descartáveis, internos e externos.
Os absorventes descartáveis, orgânicos e não orgânicos, apresentaram o maior impacto nos oito quesitos, exceto pelo consumo de água. E os absorventes não orgânicos foram avaliados com o maior potencial de aquecimento global e esgotamento de recursos.
O potencial de aquecimento global – a capacidade de emissão de gases do efeito estufa, que absorvem o calor e aquecem a atmosfera da Terra ao longo de um dado período de tempo – vem do processo de fabricação. Quase a metade desse impacto é decorrente da produção de polietileno, um tipo de plástico derivado do petróleo.
Mas um dos resultados mais surpreendentes, até para os autores do estudo, é que os absorventes de algodão orgânico apresentaram o maior impacto em cinco dos indicadores avaliados.
“Os impactos são principalmente relacionados à fabricação das matérias-primas e à produção orgânica, que pode causar impactos ambientais maiores”, explica uma das autoras do estudo, Mélanie Douziech, da Escola Mines Paris da Universidade PSL, na França.
A produção da agricultura orgânica é menor do que a convencional. Isso significa que é preciso ter mais água e terra para produzir a mesma quantidade de algodão orgânico, em relação ao convencional.
Resultados similares foram encontrados entre os absorventes internos de algodão orgânico e não orgânico.
Diferentes partes do ciclo de vida influenciam a quantidade de emissões, dependendo de cada produto.
“Para produtos descartáveis, a questão é a fabricação e a produção de matérias-primas, pois muitos desses produtos contêm plástico, que apresenta impacto bastante grande para o aquecimento global”, explica Douziech.
“Com produtos reutilizáveis, a questão são as fases de fabricação e uso, especialmente o consumo de eletricidade.”
Para lavar todos os produtos reutilizáveis entre cada uso, é preciso consumir água e eletricidade. Mas as calcinhas absorventes apresentam melhores resultados que os absorventes reutilizáveis – em parte, porque, de qualquer forma, seria preciso utilizar (e lavar) outro modelo de calcinha.
“O coletor menstrual é um claro vencedor, mas a calcinha menstrual também é uma alternativa que reduz muito os impactos ambientais”, destaca Douziech.
O nosso cuidado com as calcinhas menstruais também pode influenciar o seu impacto final, se lavarmos em temperaturas mais baixas e como parte de uma carga total da máquina de lavar.
E o plástico?
A avaliação não considerou a poluição de plástico. Mas, segundo o estudo, cada absorvente convencional – incluindo a embalagem, abas e adesivos – libera cerca de 2 g de plástico não biodegradável para o meio ambiente.
Esta quantidade equivale a quatro sacolas plásticas e seu tempo de decomposição é estimado em 500 a 800 anos.
O estudo também destaca que, nos Estados Unidos, 80% dos absorventes internos convencionais e 20% dos externos são descartados no vaso sanitário, bloqueando os esgotos e liberando microplásticos para os oceanos.
Antes da publicação do relatório, o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, na sigla em inglês) encomendou, em 2021, uma análise de diversos estudos do ciclo de vida, comparando os impactos ambientais dos produtos menstruais, incluindo as emissões de carbono e o consumo de recursos.
Uma das autoras foi Philippa Notten, diretora da organização sem fins lucrativos TGH Think Space, com sede na Cidade do Cabo, na África do Sul. Ela se dedica a projetos de sustentabilidade, mudanças climáticas e consumo de energia.
Notten afirma que, devido à falta de dados, o impacto do plástico no fim da vida dos produtos menstruais não é bem documentado nas avaliações de ciclo de vida.
“O plástico costuma ser calculado como terminando em um aterro ou incinerador”, explica ela.
“Ao contrário do que pode parecer, o aterro, na verdade, parece bom do ponto de vista de pegada de carbono. Isso porque o plástico leva centenas de anos para se degradar e essas emissões de carbono ficam presas no aterro, que age como sifão de carbono.”
“Na verdade, este produto nem sempre acaba em um fluxo de gestão formal de resíduos; ele se transforma em lixo nas praias ou microplásticos no mar”, prossegue Notten. “E ainda existe muito carbono na produção de plástico.”
No relatório do UNEP, o coletor menstrual também aparece em primeiro lugar, com margem considerável.
“É muito raro que isso aconteça com um produto”, prossegue Notten. “Não é que o coletor não tenha pegada de carbono, mas ele é um produto tão leve e pequeno que o impacto também é menor em relação aos demais.”
“Sempre falamos nestes estudos em ‘pontos de equilíbrio’: quantas vezes você precisa usar um produto renovável para que ele compense as emissões causadas nas suas fases de fabricação e uso, em comparação com um produto descartável?”
“Para muitos produtos, [o ponto de equilíbrio] costuma ser bastante alto, como 100 vezes”, explica ela. Mas, “com o coletor menstrual, você só precisa usá-lo por um mês para que ele compense sua pegada de carbono.”
Os dois estudos expressam a importância do contexto e destacam que as emissões de gases do efeito estufa são apenas uma das muitas consequências dos produtos e processos.
“Não importa o que fizermos, sempre teremos impacto, mas a ideia é minimizar este impacto ao máximo possível”, afirma a pesquisadora Paula Pérez-López, da Escola Mines Paris da Universidade PSL, uma das autoras do estudo franco-americano.
A avaliação do ciclo de vida recomenda que as mulheres considerem fatores além dos impactos ambientais, incluindo a infraestrutura e o comportamento sociocultural.
“Estava fora do nosso campo de especialização, de avaliação ambiental, mas, em alguns países africanos, os produtos reutilizáveis, particularmente coletores menstruais, podem fazer a diferença entre ir ou não para a escola, entre certas meninas que não têm acesso a produtos menstruais”, explica Pérez-López.
“É claro que o problema de acesso se estende a todo tipo de produtos, mas o acesso ao coletor menstrual pode ser muito mais fácil, por ser um artigo pequeno, que dura muito tempo.”
Estudos recentes alertaram para as consequências do uso de coletores menstruais mal aplicados ou de tamanho incorreto. Houve o caso de uma mulher que desenvolveu problemas renais temporários e outras que sofreram prolapso dos órgãos pélvicos.
A ginecologista e obstetra consultora Shazia Malik, do Hospital Portland, em Londres, hesita em recomendar coletores menstruais para adolescentes, a menos que se ensine cuidadosamente como usar e cuidar deles.
“Nos últimos oito anos, observei pacientes adultas e adolescentes, usuárias de coletores menstruais, sofrerem infecções”, ela conta. “Se você não inserir [o coletor] corretamente, ele pode comprimir a bexiga ou o reto e não coletar eficientemente o sangue menstrual.”
Malik também alerta sobre os riscos do uso do mesmo coletor menstrual por muitos anos. Seu conselho é ter dois coletores, esterilizá-los após cada uso (incluindo de manhã e à noite) e substituí-los assim que houver qualquer sinal de desgaste.
“Também precisamos ter mais consciência sobre a escolha do tamanho certo do coletor menstrual, dependendo do seu fluxo e se você passou por parto normal”, prossegue a médica. “Com informação, o coletor é um produto menstrual fantástico.”
Mudanças na legislação
No Reino Unido, a organização sem fins lucrativos Rede Ambiental Feminina (WEN, na sigla em inglês) defende a criação de uma Lei de Sustentabilidade, Dignidade e Saúde Menstrual no país. Seu objetivo seria combater a pobreza menstrual, resíduos ambientais e os produtos químicos tóxicos encontrados em produtos menstruais.
A WEN menciona uma nova política criada na região da Catalunha, na Espanha, como um exemplo a ser seguido. Desde março de 2024, todas as mulheres da Catalunha têm acesso a produtos menstruais reutilizáveis, sem custo.
Uma das preocupações da entidade é um estudo americano que encontrou 16 tipos de metais em absorventes internos, incluindo chumbo. E uma reportagem da revista britânica voltada ao consumidor Which? encontrou “níveis desnecessariamente altos de prata” em certas calças absorventes. O metal é usado como agente antimicrobiano, para controle da higiene e odores.
Helen Lynn é gerente de campanhas dedicada aos impactos ambientais dos produtos menstruais da WEN. Ela afirma que essas substâncias são prejudiciais para a saúde humana e para o meio ambiente – e que as inovações surgem com mais rapidez do que as regulamentações.
“[A avaliação do ciclo de vida] é um estudo interessante, mas não leva em consideração os aditivos e resíduos químicos dos produtos menstruais porque as empresas não são obrigadas a divulgá-los”, explica ela. “Por isso, estudos como estes só podem analisar os principais materiais descritos pelos fabricantes.”
“A falta de transparência faz com que as pessoas não saibam o que existe nesses produtos, que elas usam perto de uma região muito absorvente do corpo humano.”
Existem progressos sendo feitos no setor legislativo e a Europa lidera o caminho.
Em setembro de 2023, a Comissão Europeia estabeleceu novos critérios de concessão de Rótulos Ecológicos da União Europeia para produtos higiênicos absorventes e coletores menstruais reutilizáveis. Eles são concedidos a produtos que atendam aos limites de impacto ambiental ao longo do seu ciclo de vida.
Nos países nórdicos, o Rótulo Ecológico do Cisne Nórdico promove o consumo eficiente de recursos, redução dos impactos climáticos, economia circular não tóxica e a conservação da biodiversidade. Atualmente, ele está em fase de consultas para analisar os critérios para seus produtos de higiene.
Em 2024, Vermont passou a ser o primeiro Estado americano a adotar uma nova lei proibindo os “produtos químicos eternos” (PFAs – compostos perfluoroalquil e polifluoroalquil, na sigla em inglês). E um projeto de lei apresentado pela congressista Grace Meng, de Nova York, convoca os Institutos Nacionais de Saúde do país (NIH, na sigla em inglês) a estudar a composição dos produtos menstruais.
A professora Marina Gerner, da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York e autora do livro The Vagina Business (“O negócio da vagina”, em tradução livre), é favorável a um equivalente americano do Rótulo Ecológico da União Europeia. Mas o que ela pede, na verdade, é uma iniciativa global.
“As empresas precisam revelar os ingredientes dos seus produtos menstruais e os órgãos reguladores precisam proibir os componentes tóxicos”, afirma ela.
“Isso ainda não aconteceu porque a saúde das mulheres, historicamente, é pouco pesquisada e pouco financiada. O absorvente interno moderno foi inventado em 1931 e o primeiro estudo sobre os níveis de metais no produto só foi publicado no ano passado.”
Vários anos atrás, comecei a usar principalmente as calcinhas menstruais. Elas duram de dois a três anos e três pares custam cerca de 45 libras (cerca de R$ 334).
Como um pacote de 10 absorventes custa no Reino Unido cerca de 2,75 libras (cerca de R$ 20,40) e usando dois pacotes por mês, eu teria desembolsado até 200 libras (cerca de R$ 1,48 mil) em absorventes no mesmo período.
Um coletor menstrual custa, aqui, cerca de 20 libras (cerca de R$ 148). E uma pessoa com prática no uso de absorventes internos pode inseri-lo com relativa facilidade. Mas a sua remoção, limpeza e reinserção, quando estamos longe de casa ou em banheiros públicos, pode reduzir a sua acessibilidade.
Como nado regularmente, pretendo começar a experimentar as roupas de banho menstruais. Mas a possibilidade de vazamento me deixa ansiosa, embora pessoas que usam esses produtos tenham me garantido que isso não acontece.
A avaliação do ciclo de vida classificou os absorventes descartáveis orgânicos como o produto com impacto ambiental mais forte. Mas, em algumas ocasiões, as calcinhas menstruais não são convenientes e faço uso de uma marca descartável de algodão orgânico, livre de plástico e compostável, que posso descartar com o lixo orgânico. Ela é facilmente disponível em supermercados e farmácias no Reino Unido.
Pérez-López afirma que o estudo não projetou a compostagem no fim da vida, que “precisaria ser mais investigada”, segundo ela.
Quando o assunto é tentar fazer melhores escolhas ambientais, é raro encontrar uma relativa bala de prata, como o coletor menstrual. Mas acho que a maioria das pessoas que tem condições de escolher seus produtos menstruais preferiria ter uma variedade de opções. “E esta é uma grande solução”, segundo Pérez-López.
“Quando puder, escolha um produto reutilizável, mas, se você não estiver confortável utilizando um certo tipo de produto por todo o seu ciclo ou não puder confiar em um produto reutilizável por algum motivo específico, combine diversos produtos. Você ainda irá fazer a diferença.”
Por Ana Santi – BBC Future
Foto: Getty Images / Reprodução Correio Braziliense