“Atos isolados antissemitas nos assustam no Brasil”, diz filha de imigrantes judeus em Brasília

“O que existe no Brasil contra os judeus, que nos assusta, são atos isolados ainda, são atos pequenos. Mas sempre os grandes movimentos começaram com atos pequenos e isolados”

6

Por Alex Mapurunga e Eliza Lima
Agência de Notícias do CEUB

Filha de uma sobrevivente do Holocausto, a secretária-geral da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB), Vivienne Landwehr, 72 anos, tem na memória o que fascinou a família na chegada ao Brasil: carnaval e novas esperanças.

PUBLICIDADE

“O que existe no Brasil contra os judeus, que nos assusta, são atos isolados ainda, são atos pequenos. Mas sempre os grandes movimentos começaram com atos pequenos e isolados”, afirmou.

Mesmo assim, testemunhou, ao longo da vida, que inrolerância fez parte do dia a dia da família. “Nós nunca sabemos quando vamos ser postos para fora do país”. De toda forma, ela diz que os judeus celebram nesta semana a imigração judaica no Brasil.

Vivienne relata que ainda sente medo atualmente em ser judia no Brasil. Ela afirma que hoje em dia há demonstrações de antissemitismo no País.

Novo começo

Viviane nasceu em São Paulo, após seus pais, refugiados, se mudarem para o Brasil com ela.

Ela explica que a mãe nasceu na Transilvânia, na Romênia. O pai, de Bukovina, região na fronteira entre Ucrânia e Romênia.

Apesar da falta de meios de comunicação na época, o casal marcou de se encontrar em Viena e, após peregrinações, se casaram e chegaram à Argentina em 1951.

Entretanto, o regime totalitário de Perón não os agradou e, segundo a filha, “numa viagem de trabalho, o avião parou para abastecer no Rio, e era carnaval. E ele enlouqueceu com o Rio. Na volta, pegou a família e foi para São Paulo.”

Em 1959, o pai se mudou para Brasília com o objetivo de recomeçar a vida do zero, trazendo o resto da família em 1962.

Judeus no Novo Mundo

A história familiar de Vivienne reflete os séculos de imigração judaica no Brasil, mas essa relação começou séculos antes. A história da comunidade no Brasil remonta ao século XV, quando a primeira leva de imigração judaica ocorreu após o decreto espanhol que obrigava os judeus a se converterem ao cristianismo.

Fugindo dessa perseguição rumo ao “Novo Mundo”, se estabeleceram em Pernambuco, onde puderam exercer a liberdade de praticar o judaísmo concedida pelo governo holandês calvinista.

Compuseram a primeira comunidade judaica e construíram a primeira sinagoga oficial das Américas, em 1636, em Recife, localizada até hoje na Rua do Bom Jesus.

No entanto, esse período de liberdade teve seu fim quando Portugal conquistou Recife, obrigando os judeus que permaneceram em solo brasileiro a se converterem.

Angústia e medo

Durante a ascensão do nazismo ao poder, em 1933, judeus alemães refugiados da Alemanha nazista chegaram ao Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, assim como a família da artista plástica.

Durante a Segunda Guerra Mundial, com angústia e medo, os judeus residentes no Brasil viviam apreensivos com a política nacionalista e xenófoba do governo Vargas, afirma a secretária-geral da Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB).

Liberdade no Brasil

Apesar disso, a comunidade judaica contou com liberdade religiosa, criando novas entidades, sinagogas e ensinando hebraico e iídiche, mesmo com o clima de intimidação imposto pelo governo.

Após a Segunda Guerra Mundial, a imigração judaica continuou, mas em menor número. O último dado do IBGE de 2010 aponta 107.329 judeus em solo nacional. Já os dados da CONIB de 2023 apontam 120 mil indivíduos, totalizando 0,06% da população.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

Por Jornal de Brasília

Foto: Confederação Israelita do Brasil / Reprodução Jornal de Brasília

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui