Um duro golpe no tráfico: megaoperação prende 50 pessoas

Foram cumpridos 50 mandados de prisão e 70 de busca e apreensão. Cocaína era trazida da Região Norte do país para ser armazenada e distribuída a partir de Samambaia. Entorpecentes chegavam em carros transportados por caminhões cegonha

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Uma operação conjunta da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) da Polícia Civil do Distrito Federal e da 3ª Promotoria de Entorpecentes do Ministério Público (MPDFT) prendeu 50 pessoas e desarticulou uma das maiores redes interestaduais de tráfico de drogas em atuação no DF. Batizada de Operação Irmãos, a ação foi deflagrada na manhã de ontem e cumpriu 50 mandados de prisão e 70 de busca e apreensão no Distrito Federal, Rondônia, Goiás e Ceará.

Em coletiva de imprensa, o delegado Luiz Henrique Sampaio, da Cord, explicou que o grupo operava havia pelo menos cinco anos, trazendo cocaína da Região Norte do país, especialmente de Rondônia, para ser armazenada e distribuída a partir de Samambaia. Os entorpecentes chegavam escondidos no compartimento multimídia de carros transportados por caminhões cegonha, em uma logística pensada para driblar a fiscalização.

Segundo a investigação, o grupo alugava imóveis em Samambaia, alguns com a permissão de moradores, outros sem residentes, para montar centros de armazenamento da droga. A rede atuava de forma articulada, com vínculos familiares entre os envolvidos, como irmãos, primos e tios. “Apesar de o núcleo estar em Samambaia, havia ramificações em outras regiões, como Taguatinga, Guará e o Plano Piloto, onde o poder aquisitivo é mais alto”, afirmou o delegado.

Com a droga em solo brasiliense, entrava em ação a rede de distribuição para pequenos traficantes, muitos deles utilizando comércios como fachada. Além de apreensões de armas e drogas avaliadas em R$ 500 mil, a operação representou um prejuízo estimado de quase R$ 5 milhões ao grupo. Ao longo de um ano e meio de investigações, a polícia estima que a quadrilha tenha movimentado mais de R$ 20 milhões, com lavagem de dinheiro por meio da compra de imóveis, automóveis e empresas.

Entre os mecanismos de disfarce financeiro estavam distribuidoras de bebidas e restaurantes. “Esses estabelecimentos serviam tanto para lavagem de dinheiro quanto como pontos de venda. Estamos diante de uma nova configuração do tráfico no DF”, explicou Luiz Henrique. Desde agosto de 2024, a Cord monitorava a quadrilha e, em cinco operações anteriores à de ontem, apreendeu mais de 80 kg de drogas e prendeu nove integrantes da quadrilha.

Hierarquia

Correio teve acesso a documentos que revelam a hierarquia do grupo. Igor Filipe Silva Araújo e Matheus Araújo Nunes comandavam os depósitos em Samambaia e mantinham contato direto com os fornecedores Rodrigo Mingardo e Thiago de Souza, residentes em Rondônia.

Wilker Pereira de Oliveira era quem adaptava os veículos para o transporte da droga. Com expertise técnica, criava fundos falsos quase imperceptíveis no interior dos veículos. Nesses espaços cabiam cargas grandes de entorpecentes.

Outro alvo é Eloísio Sebastião dos Santos, apontado como investidor da quadrilha. Ele cumpre pena em regime domiciliar e, segundo as investigações, comandava parte das operações a distância, injetando capital e monitorando resultados. “A atuação dele é típica de um financiador que se esconde atrás das cortinas, mas que tem poder de decisão sobre a operação”, afirmou o delegado.

Para não chamar a atenção, os membros da quadrilha, apesar do alto poder aquisitivo, usavam carros populares e moravam em casas simples, estratégia que, segundo a polícia, ajudou o grupo a passar despercebido por anos.

O avanço decisivo da investigação ocorreu em janeiro deste ano, com a prisão de Diogo Aparecido Barbosa Santos, na BR-060. Ele vinha de Goiânia com R$ 1 milhão em cocaína escondido no carro. Diogo atuava como “mula” e havia se infiltrado em grupos de segurança pública no WhatsApp, fingindo ser policial penal, PM de Goiás e segurança de autoridades para obter informações privilegiadas.

De acordo com Sampaio, a operação é um dos maiores golpes contra o tráfico interestadual de drogas já registrado no DF, com ramificações em quatro estados e impacto direto sobre a distribuição de entorpecentes nas principais regiões administrativas da capital. A Polícia Civil segue com as investigações para identificar outros integrantes da rede.

Cargos e funções

Cúpula

Igor Filipe Silva Araújo – Líder da organização, atua como distribuidor e proprietário de imóveis utilizados no tráfico. É o centro de conexões e decisões do grupo.

Matheus Araújo Nunes – Concunhado de Igor, parceiro direto no esquema. Distribuidor e proprietário de distribuidora de fachada.

Kelly Morgana – Companheira de Igor e cunhada de Matheus. Tem papel estratégico: atua na logística e nas finanças da organização.

Logística, Armazenamento e Transporte

Iago Silva Araújo – Irmão de Igor, atua como distribuidor. Possui histórico de violência doméstica.

Gustavo Henrique Milhomem Ferreira – Transportador e traficante. Foi preso com grande quantidade de drogas em seu apartamento, usado como depósito. 

Diogo Aparecido Barbosa Santos – Transportador, usava identidade falsa de policial. Armazenava drogas em casa e na garagem. Infiltrado em grupos policiais do WhatsApp.

 Rogério Damaceno Machado – Dono de transportadora em Goiás. Atuação direta no transporte interestadual de drogas.

Jefferson Costa da Silva – Dono de outra transportadora em Goiás, recebeu valores de Matheus Araújo.

Operações Financeiras e Laranjas

João Paulo Felix Soares – Laranja. Linhas de Igor, Kelly e Matheus estavam em seu CPF. É o titular da conta de luz do depósito.

Victor Guilherme dos Santos – Subordinado e laranja financeiro de Tiago Brito.

Marcelo Luiz Ferreira dos Santos – Dono de mercado em Rondônia, aparece como beneficiário financeiro.

Fabiano Santos Toledo – Principal operador financeiro da Orcrim. Movimentou milhões para o grupo.

Produção, Preparo e Distribuição de Drogas

Wilker Pereira de Oliveira – Responsável por “produzir os entorpecentes nos veículos” e repassar os carros à Orcrim.

Luiz Leonardo da Silva Costa – Funcionário de Igor e Matheus. Foi preso na Distribuidora Araújo e assumiu a culpa para proteger os chefes.

Bruno Amaral de Lima – Recebia drogas de Diogo Barbosa e atuava como motoboy distribuidor.

Fornecedores da Rota Norte

Romildo Mingardo Júnior – Fornecedor e transportador de drogas de Rondônia. Preso com grande quantidade.

Tiago de Souza Brito – Fornecedor de RO, foi hospedado no apartamento de Igor.

Ricardo Filipe Almeida da Silva (Ricardinho) – Traficante e fornecedor. Dono de distribuidora e restaurante usados para lavar dinheiro.

*Estagiário sob a supervisão de Eduardo Pinho

Por Painel da Cidadania

Fonte Correio Braziliense       

Foto: PCDF

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