Vídeos de homens raspando ou aparando os cílios têm circulado nas redes sociais, impulsionando uma tendência perigosa baseada na ideia de que cílios curtos seriam mais “másculos”. No entanto, além de não ter qualquer embasamento biológico, o hábito de remover os cílios pode causar danos sérios à saúde ocular.
Segundo especialistas, os cílios não apenas têm funções essenciais, como proteger os cílios contra poeira, partículas e microrganismos, como também, não apresentam diferenças estruturais entre homens e mulheres. Ou seja, a crença de que cílios longos são “femininos” é cultural, não científica.
“Não há diferença entre os sexos quanto ao comprimento ou a quantidade de cílios. Isso é uma característica individual. Eles normalmente voltam a crescer com mais ou menos um mês e meio a dois meses, caso sejam arrancados”, explica a oftalmologista Juliana Lasneux, do CBV Hospital de Olhos. “Raspar os cílios é uma péssima ideia. Você reduz a proteção dos olhos e corre risco de lesões. Cílios cortados ou arrancados podem nascer virados para dentro, causando desconforto ou até perfuração da córnea.”
Além da proteção física, os cílios têm papel sensorial. São extremamente sensíveis ao toque e, quando estimulados, desencadeiam o reflexo de piscar, um mecanismo automático de defesa contra ameaças externas. É por esse motivo que nosso olho tem uma espécie de reação quando uma lâmina ou qualquer superfície estranha entra em contato ou chega muito perto. Também ajudam na lubrificação dos olhos ao distribuir as lágrimas de maneira uniforme, evitando o ressecamento da superfície ocular.
“Na base dos cílios existem glândulas que participam da produção da lágrima. Ao retirar os cílios, o olho se torna mais frágil, seco e suscetível a infecções. Além disso, removê-los com objetos cortantes pode causar lesões sérias na córnea e conjuntiva. Isso não deve ser feito por modismo ou brincadeira”, afirma Núbia Vanessa, também oftalmologista do CBV.
Estudos mostram que cílios de comprimento médio (cerca de 8 mm) ajudam a reduzir a evaporação das lágrimas e protegem contra o fluxo de ar direto. Cílios muito curtos ou ausentes expõem mais os olhos, aumentando o risco de irritações e infecções.
Casos de pessoas sem cílios por motivos clínicos — como quimioterapia, alopecia ou compulsões como a tricotilomania — evidenciam o quanto eles fazem falta. Nessas situações, o desconforto ocular é constante, e a exposição do olho a partículas e ao vento pode prejudicar a qualidade de vida.
O corpo humano desenvolve os cílios ainda no útero, e sua estrutura é natural e funcional, não um acessório estético. “O cílio tem um motivo para estar ali. Retirar por vaidade ou desafio pode gerar consequências imediatas ou a longo prazo. Se for feito com gilete ou pinça, o risco de infecções e alterações no crescimento do fio é ainda maior”, destaca Núbia.
Por Painel da Cidadania
Fonte Correio Braziliense
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