Elementos do Cerrado transformados em peças decorativas por artesãos brasilienses têm chamado a atenção de quem vai à 25ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato, a Fenearte, que ocorre até o próximo domingo (20), em Olinda (PE), e por onde devem circular mais de 320 mil pessoas nos 12 dias de evento. O estande do Distrito Federal conta com a participação de sete representantes selecionados por meio de edital público pela Secretaria de Turismo do DF.
O DF participou de todas as edições da Fenearte e a expectativa para este ano é grande: superar o faturamento de R$ 170 mil de 2024. “Em 2025, queremos bater os R$ 200 mil”, espera Klever Antunes, chefe de unidade de artesanato da Secretaria de Turismo do DF. Um dos destaques deste ano é a participação de um mestre artesão na arte da marchetaria, o Genolino, representado pelo filho Allan Malta.
O artesão, da região de Sobradinho, conta que o pai, que foi funcionário dos Correios por mais de 20 anos, começou a trabalhar com artesanato em 2004 e passou a dominar a arte da marchetaria. “Nós trabalhamos com o cipó, a raiz que nasce e se enrola nas árvores, que a gente colhe no Cerrado. Com ele, tratamos e criamos peças de decoração e algumas utilitárias”, detalha Allan. São espelhos, mandalas, que servem tanto como quadro quanto como tampo de mesa, caixas, baús e objetos decorativos.
Allan começou a trabalhar com o pai ainda na adolescência. Desde 2010, pai e filho participam da Fenearte. Para este ano, levaram cerca de 50 peças para comercializar. “Como elas são muito grandes, fica difícil trazer mais, mas a expectativa é que a gente venda tudo”, conta. “Aqui em Olinda, é o lugar onde mais valorizam o nosso trabalho em todo o Brasil.” Em Brasília, os produtos da G Mandalas são comercializados na Torre de TV.
Flores por toda a parte
As flores do Cerrado costumam ser o cartão de visitas do estande do Quadradinho. Este ano, três artesãos levaram a técnica de desidratação das plantas, tão popular no DF, para Olinda. Marcos Nascimento é um deles. Essa é a terceira participação do morador de Planaltina na feira e, para esta edição, começou a produção, intensamente, há dois meses. São buquês, arranjos, flores e folhas avulsas desidratadas, colhidas nas regiões do DF e de Goiás.
Marcos aprendeu a arte, ainda criança, com a avó Lira Antônia, já falecida, e a mãe, Maria Apolinária, ambas mestras artesãs. Ele justifica o motivo de o produto, que pode ser desidratado de forma natural, no Sol, ou com a ajuda de agentes químicos, fazer tanto sucesso no Nordeste. “Como eles são de outro bioma, Mata Atlântica, os produtos do Cerrado despertam muita curiosidade.” E a expectativa é de vender toda a produção que levou para a feira.
O artesão explica que as flores são altamente duráveis, chegando a 10 anos de resistência. “As pessoas, geralmente, só se desfazem delas porque enjoaram, não porque envelheceram”, garante. A marca de Marcos, Flores do Cerrado, também é comercializada na Torre de TV.
Estreantes
Maria da Conceição Aparecida Lopes é estreante na Fenearte. Desde criança, ela gosta de fazer trabalhos manuais, tem inclusive formação na arte da tapeçaria. Mas foi só durante a pandemia, depois que se aposentou, que começou a produzir cabaças, espécie de fruto que cresce em plantas trepadeiras, pintadas a mão e ornamentadas com biscuit. “Eu sempre gostei dessa arte em cabaça, só que eu não sabia como funcionava o processo de produção, daí comecei a pesquisar. Foram três meses de estudo direto até começar a fazer.”
Hoje, o carro-chefe de Conceição são as reproduções de São Francisco de Assis e de São José, em vários tamanhos. “As minhas peças de São Francisco não têm identidade. Eles não têm rosto”, explica. Conceição trabalha em casa, em Recanto das Emas. “Meu ateliê é na sala, na mesa, no chão, onde cabe”, diverte-se.
A Fenearte era um sonho para a artesã, que tenta há dois anos participar da feira. Para Olinda, ela levou 140 peças prontas e mais 40 cabaças para produzir. E está otimista com as vendas.
Maria Bernadete, mais conhecida como Noca, também faz sua estreia na Fenearte, apesar de ser artesã há 43 anos. Ela já usou técnicas como tapeçaria, biscuit e desidratação, mas agora concentra a produção na pirografia — arte de decorar materiais, no caso de Noca, o couro, com marcas de queimadura resultantes da aplicação controlada de um objeto aquecido, o pirógrafo. “A ponta do aparelhinho fica incandescente, esquenta, e você vai fazendo um jogo de luz e sombra, conforme o desenho.”
O carro-chefe de Noca são os blocos de anotação com as capas de couro trabalhadas manualmente. “Eu monto os pontos, corto o couro, faço a encadernação, tudo. Eu desenho e pinto à mão livre. Com o tempo, fui acrescentando madeira, pedras naturais e outros materiais. São peças autorais e únicas”, detalha.
As folhas do bloco de anotações são em material reciclável e podem ser substituídas. Ou seja, a capa é para sempre. A artesã tem uma loja na Torre de TV, a Toca da Noca, onde, além dos blocos, comercializa marca-texto e outros acessórios. Para a Fenearte, ela levou 600 peças e espera voltar de mãos abanando para Brasília.
A jornalista viajou a Pernambuco a convite da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe)
Por Painel da Cidadania
Fonte Correio Braziliense
Foto: Rodrigo-Goncalves