HIV: Novo medicamento preventivo tem recomendação da OMS

A orientação surge após resultados considerados "extraordinários" de dois grandes estudos clínicos, Purpose1 e Purpose2, que demonstraram eficácia quase total na estratégia, especialmente entre populações-chave mais vulneráveis, como mulheres cisgênero, homens que fazem sexo com homens e transgêneros

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou oficialmente o uso do medicamento injetável lenacapavir como nova opção para prevenção do HIV, ampliando as estratégias de profilaxia pré-exposição (PrEP) já adotadas em diversos países. A orientação surge após resultados considerados “extraordinários” de dois grandes estudos clínicos, Purpose1 e Purpose2, que demonstraram eficácia quase total na estratégia, especialmente entre populações-chave mais vulneráveis, como mulheres cisgênero, homens que fazem sexo com homens (HSH) e pessoas transgênero.

De acordo com o documento publicado ontem pela OMS, o lenacapavir é administrado por meio de uma injeção subcutânea a cada seis meses, o que representa uma inovação em relação à PrEP oral diária e aos injetáveis bimestrais já disponíveis, como o cabotegravir. “Essa recomendação oferece uma oportunidade real de ampliar o acesso à prevenção do HIV para populações que têm dificuldade de aderir a esquemas diários ou mais frequentes”, afirmou Meg Doherty, diretora de Programas Globais de HIV, Hepatites e ISTs da OMS, em comunicado.

Segundo dados da agência da ONU Unaids, cerca de 1,3 milhão de pessoas utilizaram PrEP em 2022, ainda longe da meta global de alcançar 10 milhões de usuários até 2025. A expectativa é que tecnologias como o lenacapavir ajudem a preencher a lacuna.

Licenciamento

O acesso ao novo medicamento dependerá de políticas públicas, acordos internacionais de licenciamento e adequação da rede de saúde. O preço do lenacapavir em mercados de alto poder aquisitivo ainda é significativamente superior ao da PrEP oral tradicional. Segundo a OMS, a farmacêutica Gilead já firmou acordos de licença voluntária com produtores de genéricos para ampliar o acesso em nações de baixa e média renda da África, mas ainda não há previsão para a América Latina.

O lenacapavir age inibindo o capsídeo do HIV, estrutura fundamental para o transporte do material genético do vírus. Essa inovação pode, segundo estudos, aumentar o risco de desenvolvimento de resistência. “Apesar de a resistência ter sido observada em outros antirretrovirais injetáveis já existentes no mercado, isso não aconteceu de forma relevante com o lenacapavir, então essa preocupação não é tão grande nesse momento”, esclarece André Bon, infectologista do Exame Medicina Diagnóstica, da Dasa. 

“Na avaliação da OMS, apesar dos desafios, a incorporação de novas opções preventivas é essencial para reduzir as 1,3 milhão de novas infecções anuais por HIV registradas no mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde já manifestou interesse em avaliar a adoção do lenacapavir, mas o processo está em fase preliminar de análise técnica e regulatória.

 Palavra de especialista

“O lenacapavir é um antirretroviral de uma nova classe de inibidores de capsídeo. Ele basicamente evita que o vírus consiga formar seu invólucro e sua capa. Isso afeta fases da replicação viral, tanto precoce quanto tardias, impedindo que o vírus se forme de maneira adequada. Isso é bastante diferente do que a gente tem até hoje. A grande vantagem do lenacapavir em relação à PrEP oral é o fato dele poder ser usado a cada seis meses, não depender de uso diário ou sob demanda, o que pode levar, eventualmente, ao esquecimento de doses. Então, isso faz com que seja facilitada a adesão e haja redução no risco de perda de doses de forma consistente.”


André Bon, infectologista do Exame Medicina Diagnóstica, da Dasa

Adesão facilitada

Desde que famosos começaram a alardear os benefícios do jejum intermitente, muitas pessoas questionam se a estratégia pode ser mais eficaz do que a restrição de calorias. Alguns estudos clínicos tentaram resolver a questão, mas o número limitado de participantes impedia uma resposta definitiva. Agora, um artigo publicado na revista The British Medical Journal (BMJ) com dados de 6,5 mil adultos revela que se alimentar em dias alternados ou com restrição de horário proporciona os mesmos efeitos das dietas tradicionais, seja para emagrecer ou para manter a saúde cardiovascular.

A conclusão do artigo, baseado na revisão de 99 ensaios clínicos que compararam os resultados das duas estratégias, é a de que, com orientação, jejuar ou cortar calorias trazem os mesmos benefícios, e devem ser indicados de acordo com a realidade do paciente. “O foco deve ser promover mudanças sustentáveis ao longo do tempo”, escreveram os autores, liderados por John Sievenpiper, do Departamento de Ciências Nutricionais da Universidade de Toronto, no Canadá. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 2,5 bilhões de adultos — 43% da população acima dos 18 anos — estão acima do peso, enquanto 800 milhões (16%) vivem com obesidade. A perda de peso pode reduzir fatores de risco cardiometabólico, como pressão alta, colesterol e níveis de açúcar no sangue, e, consequentemente, diminuir a carga de doenças crônicas graves, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. 

Alternativa

Nos últimos anos, o jejum programado tornou-se uma alternativa popular às dietas tradicionais com restrição calórica, que muitas vezes são insustentáveis a longo prazo. Embora não exista uma definição única da abordagem, os vários métodos podem ser enquadrados em três categorias: alimentação com restrição de tempo (por exemplo, 16 horas de jejum e oito de alimentação); dias alternados (jejum de 24 horas) ou dias inteiros (como cinco dias de ingestão alimentar e dois de jejum). 

“Os efeitos do jejum intermitente na saúde, em comparação com a restrição calórica contínua, permanecem, porém, obscuros”, justifica Sievenpiper. Para comparar os efeitos das abordagens, os autores estudaram dados de 6.582 pessoas com idade média de 45 anos e índice de massa corporal de 31 (obesidade grau 1). Quase 90% delas tinham problemas de saúde preexistentes. 

A análise indicou que todas as estratégias levam a reduções no peso corporal, além de beneficiarem a saúde cardiometabólica, quando comparadas a uma alimentação sem nenhuma restrição. O jejum em dias alternados mostrou um pequeno benefício no emagrecimento, em relação à restrição calórica (diferença média de 1,29kg), mas a diferença é irrelevante do ponto de vista clínico, segundo os autores. 

“As evidências atuais fornecem alguma indicação de que dietas de jejum intermitente têm benefícios semelhantes à restrição energética contínua para perda de peso e fatores de risco cardiometabólico”, escreveram os autores. “Ensaios de duração mais longa são necessários para fundamentar melhor essas descobertas.”

Perfil

O médico endocrinologista Diego Bandeira, especialista no tratamento de obesidade e emagrecimento, destaca que, na prática, a melhor recomendação é a orientação nutricional segundo o perfil do paciente, “de forma individualizada e que leve em consideração sua rotina e preferências alimentares”. “O melhor plano alimentar continua sendo aquele que a pessoa consegue sustentar com consistência e sem sofrimento”, diz. 

Bandeira destaca que o sucesso do tratamento não depende do método, mas da capacidade do paciente de segui-lo. Ele ressalta que a maioria das pessoas não consegue manter hábitos restritivos por períodos prolongados e aponta outros desafios do emagrecimento. “Nosso corpo se adapta ao processo de perda ponderal, iniciando modificações que culminam na tentativa de reganho, como a redução da capacidade de queimar calorias e aumento progressivo da fome com redução da saciedade”, diz. 

Para Naveed Sattar, professor de medicina cardiometabólica da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, a pesquisa da Universidade de Toronto é mais uma prova de que “não há nada de mágico no jejum intermitente para a perda de peso”. “Trata-se de outra maneira de as pessoas manterem sua ingestão total de calorias mais baixa. Portanto, torna-se outra opção de estilo de vida para o controle de peso. Vale a pena examinar se é sustentável a longo prazo”, observa. 

Diego Bandeira recomenda que a escolha entre jejum e outras abordagens seja criteriosa. “Pacientes que precisam simplificar a rotina alimentar durante o dia, ou ainda aqueles que têm um hábito alimentar desorganizado e naturalmente pulam refeições por conta do cotidiano, podem se beneficiar do jejum intermitente”, diz. “?Já pessoas com histórico de transtornos alimentares, crianças e adolescentes, gestantes e lactantes ou idosos mais frágeis devem evitar esse método alimentar.?”

Por Painel da Cidadania

Fonte Correio Braziliense       

Foto: Heute/Divulgação

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