Maria Luisa está internada no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) desde o início de agosto para tratar complicações oncológicas. Todas as manhãs, pontualmente às 8h, a paciente de 68 anos recebe seus comprimidos já embalados e identificados, sem imaginar o caminho que cada um deles percorreu até chegar à bandeja. Por trás daquele gesto simples, há o trabalho de uma equipe inteira dedicada a garantir que o tratamento chegue até ela com segurança e precisão.
Esse processo vem transformando a rotina do HBDF, administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF). Desde 13 de maio, quatro máquinas de unitarização de medicamentos operam na unidade, trazendo mais segurança aos pacientes e eficiência à gestão. Em pouco mais de três meses, já foram individualizadas 535 mil doses, avanço que otimiza a rastreabilidade, reduz perdas e gera economia.
A unitarização consiste em separar os medicamentos por doses, devidamente embalados e identificados. Cada unidade de ampolas e comprimidos recebe um rótulo com nome, lote, validade e cores que indicam sua categoria, tipo de tarja, necessidade de refrigeração ou sensibilidade à luz. O método reduz desperdícios e evita erros na administração, pois facilita a identificação das medicações.
O impacto também já se reflete nas finanças. No segundo trimestre de 2025, as despesas com estoque caíram R$ 30,9 milhões em relação ao mesmo período do ano passado, sem redução no número de atendimentos, que, ao contrário, aumentaram. Esse resultado é fruto da implementação do processo em si, somada ao uso de inventários rotativos, gerenciamento de validades e giro de estoque.
Segundo a gerente de Insumos Farmacêuticos e Órteses, Próteses e Materiais Especiais (OPME) do IgesDF, Jessica Nobre, o processo já era adotado no Centro de Distribuição do Instituto, mas seguia de forma manual no Base. “Antes, os comprimidos eram embalados individualmente com etiquetas pequenas e as ampolas não tinham identificação adequada. Isso gerava perdas e falta de rastreabilidade. Com as máquinas, demos um salto em segurança e gestão de estoque”, afirma.
Modernização em rede
O IgesDF adquiriu oito máquinas: duas para a Central de Distribuição, que abastece as 13 unidades de pronto atendimento (UPAs) e o Hospital Cidade do Sol, duas máquinas no Hospital Regional de Santa Maria e quatro para o Hospital de Base, consolidando o processo em uma das maiores unidades de saúde da América Latina. “A mudança atende às exigências de órgãos fiscalizadores e certificações hospitalares, reduzindo perdas e otimizando inventários, o que trouxe uma economia significativa”, reforça Jessica.
Na prática, os benefícios chegam a quem lida diariamente com os medicamentos. A chefe do Núcleo de Insumos Farmacêuticos do HBDF, Sâmara Monteiro, destaca a segurança como maior ganho. “Cada embalagem tem informações claras e cores que facilitam a identificação: azul para os que precisam ser refrigerados, preta para medicamentos psicotrópicos, vermelha para potencialmente perigosos e marrom para medicamentos sensíveis à luz. Isso ajuda a enfermagem e reduz erros”, explica.
O farmacêutico responsável pelo setor, Pedro Henrique Alves, detalha o fluxo: “O setor de medicamentos da Central de Abastecimento Farmacêutico (CAF) envia os remédios para a sala de unitarização. As máquinas identificam e embalam conforme suas classes farmacológicas. Após o procedimento, o profissional os devolve ao estoque da CAF mediante protocolo, para atender aos pedidos de reposição das farmácias satélites (de cada unidade do hospital). Todo esse processo garante mais agilidade, segurança e controle, desde a chegada do medicamento à farmácia até sua administração ao paciente”.
Na enfermaria, a mudança também é visível. A técnica de enfermagem da ortopedia, Deize Kelly, conta que a checagem ficou mais segura. “A farmácia prepara o kit, a enfermagem confere e o técnico responsável revisa. Isso reduz de forma significativa o risco de erros. Antes, os rótulos manchavam ou se soltavam; hoje, as embalagens são resistentes e fáceis de ler”, relata.
“É uma mudança que impacta toda a cadeia”, resume Jessica Nobre. “Do gestor, que controla melhor os estoques, ao paciente, que recebe o medicamento de forma segura. A unitarização mostra que tecnologia e cuidado caminham juntos na saúde pública”, conclui.
*Com informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF)
Por Painel da Cidadania
Fonte Agência Brasília
Foto: Divulgação/IgesDF