Especialista explica por que Ozempic pode reverter gordura no fígado

Estudo indica que molécula presente em medicamentos que auxiliam na perda de peso pode "reprogramar" biologia do fígado; especialista celebra resultado transformador para o tratamento da doença

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Neste sábado (11), Dia Nacional de Combate à Obesidade, o debate sobre a condição que afeta nove milhões de brasileiros, quase um terço dos adultos no país, se intensifica.  

Mas, para além da balança, há uma complicação grave e silenciosa que avança junto com a obesidade: a gordura no fígado.  

Dados recentes estimam que 8 em cada 10 pessoas com obesidade convivam com o diagnóstico – que quando não tratado pode evoluir para um quadro inflamatório grave conhecido como MASH, associado ao aumento do risco de cirrose e necessidade de transplante. 

A boa notícia, no entanto, é que a ciência avança em uma velocidade sem precedentes. É o que mostra estudo publicado pela prestigiada revista científica Nature Medicine ao revelar que a molécula semaglutida – presente em remédios como Wegovy e Ozempic – tem o potencial de “reprogramar” a biologia do fígado, revertendo o padrão de proteínas que caracteriza a MASH e aproximando-o de um estado saudável.

Em entrevista à CNN, a diretora médica da Novo Nordisck no Brasil, Marília Fonseca, avaliou os ganhos científicos obtidos na observação.  

O estudo foi feito analisando soro de pacientes, mas já temos ensaios clínicos mostrando esse efeito em grupos maiores e acompanhados por um tempo? 

O estudo de fase 3 ESSENCE, publicado no The New England Journal of Medicine, é o ensaio clínico robusto que comprova esse efeito da semaglutida no fígado em larga escala. Ele envolveu mais de 1.200 pacientes e utilizou biópsias hepáticas — o padrão-ouro para diagnóstico — para avaliar o resultado clínico.

O ESSENCE comprovou que a semaglutida 2,4mg resolveu a inflamação (MASH) em 63% dos participantes e, crucialmente, melhorou o estágio da fibrose (a cicatrização do fígado) em 37% deles.

Em resumo: o ESSENCE mostrou o que a semaglutida faz (o resultado clínico em larga escala), e o novo estudo da Nature revela como a molécula faz (o mecanismo biológico por trás do resultado), reforçando os benefícios da semaglutida que vão muito além da perda de peso.

Quais os próximos passos de um estudo como esse? 

O principal desdobramento de um estudo como este é a possibilidade de revolucionar o diagnóstico. Hoje, a confirmação da MASH depende de uma biópsia de fígado, um procedimento invasivo.

Ao identificar um “mapa de proteínas” da doença no sangue, a pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de biomarcadores não invasivos. No futuro, um simples exame de sangue poderia diagnosticar e monitorar a doença, tornando o acompanhamento mais seguro, acessível e menos doloroso para o paciente.

Qual a diferença do MASH para a esteatose hepática comum? 

Esteatose Hepática: É o acúmulo de gordura “pura” no fígado. É o primeiro estágio e o sinal de alerta. É o estágio perigoso da doença, que aumenta o risco de progressão para fibrose, cirrose e até câncer de fígado. 

MASH (Esteato-hepatite): É a evolução da esteatose. Ocorre quando o acúmulo de gordura já está causando inflamação e dano às células do fígado.  É o estágio perigoso da doença, que aumenta o risco de progressão para fibrose, cirrose e até câncer de fígado. 

Quais os efeitos da semaglutida em pacientes que já possuem algum grau de fibrose do fígado? 

Os efeitos são muito significativos e demonstram que a semaglutida pode começar a reverter o dano já estabelecido. O estudo ESSENCE, que incluiu pacientes com fibrose moderada a avançada, mostrou que o tratamento com semaglutida 2,4mg levou a uma melhora de, no mínimo, um estágio da fibrose hepática em 37% dos participantes, sem que houvesse piora da inflamação.

Isso significa que, para um número expressivo de pacientes, o tratamento não apenas freou a doença, mas efetivamente reduziu o grau de cicatrização do fígado, um resultado transformador para quem já apresenta um quadro mais avançado.

Por Painel da Cidadania

Fonte CNN Brasil

Foto: David Petrus Ibars/Getty Images

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