A evolução da medicina foi possibilitando acesso a diferentes métodos contraceptivos — na maior parte, direcionados a mulheres. Ao longo do tempo, novos produtos foram desenvolvidos, como pílulas combinadas com estrogênio e progesterona, minipílulas, dispositivos intrauterinos (DIUs), implantes e injeções. No entanto, esses aliados do planejamento familiar impactam fortemente a saúde feminina. Agora, uma nova pesquisa da Universidade de Uppsala, na Suécia, acaba de sinalizar que alguns métodos para evitar a gravidez podem aumentar o risco de câncer de mama.
Segundo a publicação, feita nessa quinta-feira (30/10) na revista JAMA Oncology, trabalhos anteriores se concentraram principalmente nas pílulas anticoncepcionais combinadas — com progesterona e estrogênio sintéticos na composição —, que costumavam ser a opção mais comum. Hoje, as alternativas à base de progesterona estão se tornando cada vez mais populares, o que torna importante estudar detalhadamente seus efeitos na saúde a longo prazo.
Na nova pesquisa, a maior do gênero até o momento, os cientistas avaliaram diferentes tipos de contraceptivos hormonais e associação com o risco de câncer de mama. O estudo baseou-se em informações dos registros nacionais da Suécia, que contêm dados sobre todas as prescrições e todos os diagnósticos de tumor. Mais de dois milhões de mulheres entre 13 e 49 anos foram incluídas e acompanhadas por meio do sistema entre 2006 e 2019 para identificar os problemas de saúde relacionados aos métodos anticoncepcionais.
“Nossos resultados indicam que alguns progestágenos — hormônios sexuais, naturais ou sintéticos, que atuam nos receptores de progesterona —, sobretudo o desogestrel, estão associados a um risco maior de câncer de mama, enquanto outros, como as injeções de acetato de medroxiprogesterona de depósito —aplicadas a cada 12 semanas—, não apresentaram aumento”, afirma a professora Åsa Johansson, líder do grupo de pesquisa da Universidade de Uppsala e do SciLifeLab, autora sênior do estudo.
O estudo também destacou que tanto as pílulas anticoncepcionais combinadas quanto os dispositivos intrauterinos hormonais contendo levonorgestrel, que estão entre os produtos mais comumente usados, foram associados a um risco menor de câncer de mama em comparação com o desogestrel. “Nem todos os contraceptivos hormonais têm o mesmo efeito no risco de câncer de mama”, explica Johansson.
De forma geral, o uso de contraceptivos hormonais foi associado a um aumento de 24% no risco de câncer de mama, o que corresponde a aproximadamente 1 caso a mais a cada 7.800 pessoas que utilizam esses produtos, por ano. Além disso, as chances aumentaram com o tempo.
O uso prolongado, entre 5 e 10 anos, de produtos com desogestrel foi associado a um risco quase 50% maior de câncer de mama, enquanto a utilização correspondente de produtos com levonorgestrel resultou em um aumento de cerca de 20% nas chances de desenvolver a doença. Pílulas anticoncepcionais contendo drospirenona combinada com estrogênio, também comuns, não foram associadas a uma elevação no risco. Para os pesquisadores, essa pode ser uma opção mais segura para mulheres com pré-disposição ao tumor.
Riscos x benefícios
De acordo com Gabrielle Scattolin, oncologista e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), para a maioria das mulheres, os benefícios dos contraceptivos hormonais superam os riscos. “A decisão deve ser individualizada, considerando fatores como histórico familiar de câncer de mama ou mutação no gene BRCA, quando o risco pode ser maior e o aconselhamento deve ser personalizado. Em mulheres sem fatores de risco elevados, o impacto absoluto sobre as chances de câncer de mama é pequeno, enquanto os benefícios são substanciais.”
“Os contraceptivos hormonais são altamente eficazes e proporcionam importantes benefícios para a saúde, e não incentivamos as mulheres a interromperem seu uso”, afirmou Fatemeh Hadizadeh, autora principal do estudo. “Além de proteger contra gravidezes indesejadas, eles reduzem o risco de câncer de ovário e endométrio, aliviam a dor menstrual e o sangramento intenso, ajudam no tratamento da acne e dão às mulheres maior controle sobre sua saúde reprodutiva.”
No entanto, ela reforçou que, ao mesmo tempo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres e, até que melhores tratamentos preventivos estejam disponíveis, evitar medicamentos que aumentam o risco pode fazer uma grande diferença – especialmente para mulheres que já apresentam pré-disposição. “Os resultados do nosso estudo fornecem aos médicos e às mulheres informações úteis para a tomada de decisões.”
Natália Polidorio, líder nacional de mastologia da Rede Américas, frisou que o risco tende a ser reduzido progressivamente após a suspensão do uso e desaparece em torno de dez anos depois. “Esse comportamento foi observado também em outro grande estudo publicado no New England Journal of Medicine em 2017, que indicou que quanto mais longo o uso, maior o risco — mas que esse risco cai depois que a paciente interrompe a utilização. Na prática, isso significa que não há motivo para alarme, mas sim para equilíbrio na escolha do método, e com acompanhamento adequado.”
Por Painel da Cidadania
Fonte Correio Braziliense
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