Sialorreia na gravidez: sintoma raro que causa salivação intensa

O ptialismo gravídico pode gerar salivação excessiva, náuseas, hiperêmese e grande impacto na vida diária; o relato de Talita Buzzi expõe a falta de diagnóstico e acolhimento

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A maioria das pessoas associa a gravidez a enjoos, cansaço e dores pelo corpo. No entanto, existe um sintoma pouco conhecido que pode surpreender algumas gestantes: a sialorreia, ou ptialismo gravídico, caracterizada pela produção exagerada de saliva. O quadro raro aparece majoritariamente no primeiro trimestre da gestação e costuma ser acompanhado de náusea. Foi nesse contexto que a publicitária paulista Talita Antoniassi Buzzi, 38 anos, descobriu algo que jamais imaginou vivenciar. “Não sabia nem que existia”, relatou à revista Crescer

O incômodo começou por volta da 10ª semana de gravidez e a pegou totalmente desprevenida. Ao mesmo tempo, Talita enfrentava hiperêmese gravídica, um quadro intenso e persistente de náuseas e vômitos, que frequentemente contribui para a dificuldade em engolir saliva e, consequentemente, para o aumento da secreção.

“Tenho que ficar com algo na boca, como um chiclete, para não babar ou cuspir. A noite para dormir é pior, pois não posso usar o chiclete, então fico com uma toalha à boca para não acordar toda molhada”, explicou. Antes de encontrar uma forma mais prática de lidar com a situação, Talita chegou a usar copos descartáveis como cuspidor, o que só intensificava os enjoos. 

Preocupada com o impacto na vida diária, ela buscou ajuda de vários profissionais. Embora não exista um medicamento específico e seguro para tratar a sialorreia em gestantes, recebeu orientações que ajudaram a amenizar o quadro. Entre elas, mudanças alimentares e até sessões de acupuntura. “Fui orientada pelos profissionais a não comer derivados de leite, frituras e alimentos pesados, pois pioram a salivação. Disseram para usar balas de limão, menta sem açúcar ou chiclete sem açúcar — esse último tem me salvado”, relata.

Mesmo com as medidas, o excesso de saliva persiste. “Não foi temporário. Estou de 22 semanas e ainda com a sialorreia e acho que vai até o final da gestação”, afirmou. O alívio veio apenas em relação à hiperêmese, que finalmente cessou recentemente. Agora, ela se concentra na preparação para a chegada de Enzo, prevista para 21 de março de 2026.

A experiência levou Talita a gravar um vídeo sobre o assunto — e o que era para ser apenas um desabafo acabou viralizando, ultrapassando 1,3 milhão de visualizações. A repercussão trouxe surpresa e acolhimento. “Não imaginava que o vídeo iria viralizar. Fiquei chocada. Muitas mulheres tiveram ou têm isso. Eu já achava que era só eu e, pelo contrário, me surpreendi com a quantidade de mulheres”, disse.

Com o retorno do público, Talita percebeu que muitas gestantes não sabiam nomear o que estavam sentindo. “Muitas nem sabiam o que tiveram, isso porque muitos médicos nem sabem o que é, ou não explicam direito sobre o assunto. Na verdade, pouco se fala sobre. Eu nunca tinha ouvido falar. Me senti acolhida, já que não sou só eu que estou passando por isso”, completou.

Entendendo a sialorreia na gestação

O ptialismo gravídico corresponde ao aumento acentuado da produção de saliva, que pode chegar a cerca de 2 litros por dia em alguns casos, segundo a ginecologista e obstetra Fernanda Torino Reginato Rizzo. A condição resulta em uma falha nos mecanismos que eliminam a saliva da cavidade oral. “A etiologia ainda é desconhecida, mas algumas teorias apontam para causas psicológicas, hormonais (especialmente a elevação de beta hCG e estrogênio) e neurais. Geralmente termina no parto”, explica a especialista. 

Por ser uma condição angustiante, Fernanda argumenta ser necessário o acompanhamento médico durante os sintomas. Apesar do desconforto, trata-se de um quadro benigno, que costuma melhorar à medida que a gestação avança, especialmente após o primeiro trimestre. A sialorreia costuma ser mais marcante no início da gravidez e frequentemente aparece associada à náusea, à êmese e à hiperêmese.

Paralelamente à produção excessiva de saliva, muitas mulheres relatam a dificuldade de engolir a secreção bucal. “Em alguns casos, também existe a predisposição genética”, acrescenta Fernanda. “Quando a situação é grave e não se resolve com medidas caseiras como mascar chicletes, entramos com medicações — que também melhoram as náuseas.”

Embora não exista um medicamento específico indicado para gestantes com sialorreia, algumas medidas ajudam a controlar o quadro: tratar a náusea com antieméticos seguros, realizar acupuntura, utilizar gengibre e evitar alimentos que estimulam a salivação, como cítricos, ácidos e muito condimentados. Quando o sintoma está associado à hiperêmese gravídica, algumas pacientes podem precisar de internação para hidratação, reposição de eletrólitos e controle intensivo dos vômitos.

Por Painel da Cidadania
Fonte Correio Braziliense
Foto: Pexels

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