Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) comprovaram que o estresse social — aquele presenciado sem envolvimento direto — pode impactar o cérebro e o comportamento de maneira distinta, dependendo do sexo biológico, da idade e também da intensidade e do tipo de estresse vivido.
A pesquisa, divulgada nesta sexta-feira (24/10), foi realizada com camundongos e publicada na revista Physiology & Behavior. O estudo observou que os efeitos do estresse são mais intensos quando ocorrem mais precocemente em animais jovens. As fêmeas adultas manifestaram maior resiliência em comparação aos machos.
“Historicamente, as mulheres apresentam maior prevalência de ansiedade e depressão no mundo. No entanto, os estudos científicos sempre priorizaram homens ou animais machos, o que influenciou os tratamentos e nossa compreensão sobre as doenças. Só mais recentemente é que esse cenário começou a mudar”, explica a pesquisadora Daniela Baptista de Souza, professora do Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas e uma das autoras do estudo.
Os pesquisadores argumentam que o estudo amplia o entendimento sobre como o estresse atua no cérebro e no comportamento e pode contribuir para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais personalizadas, considerando questões como a idade e o sexo biológico das pessoas.
Os cientistas tentaram mimetizar em laboratório situações comuns de estresse social vividas por humanos, como bullying, humilhação ou exposição a traumas pela mídia. Usando testes reconhecidos em experimentação animal, eles investigaram como esse tipo de estresse interfere no comportamento e na atividade cerebral.
“Regiões como o hipocampo e a amígdala, responsáveis pela regulação emocional, tendem a ser especialmente impactadas nessas situações, o que mostra o efeito profundo do estresse sobre a saúde mental”, destaca Ricardo Luiz Nunes de Souza, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp que liderou o estudo.
Para investigar esses efeitos, os pesquisadores usaram testes consagrados em neurociência, como o WSDS (Witness Social Defeat Stress), em que um animal chamado de “testemunha” observa outro animal, o “intruso”, sendo intimidado por um terceiro, o “agressor”.
Todos os três roedores permaneceram em uma mesma caixa, mas foram separados por uma barreira transparente. A testemunha não é atacada, mas consegue ver, ouvir e sentir o cheiro da disputa. O intruso passa por momentos de confronto direto com o agressor e também fica em uma gaiola perfurada dentro do espaço do agressor, mostrando sinais de submissão. Esse processo durou cerca de 15 minutos e foi repetido por dez dias.
Depois de um mês, os animais passam por mais uma sessão de estresse e, em seguida, são submetidos a testes para avaliar respostas relacionadas à depressão. O trabalho também contou com um grupo-controle, em que os animais testemunharam interações pacíficas, sem agressões.
De acordo com os resultados, quando os animais mais jovens foram reavaliados alguns dias depois, apresentaram respostas mais robustas associadas à depressão. Entre os adultos, machos e fêmeas reagiram de forma distinta: algumas análises mostraram efeitos só nas fêmeas, outros só nos machos, indicando diferenças comportamentais.
“No cérebro, também houve variações. As fêmeas apresentaram menor ativação na amígdala e no hipocampo, o que não ocorreu nos machos. Já nos jovens, as mudanças comportamentais foram mais intensas e afetaram ambos os sexos, mas sem alterações cerebrais. Isso significa que o estresse na fase adulta evidenciou diferenças sexuais mais marcantes do que na juventude”, afirma Daniela Souza à Agência Fapesp.
Por Painel da Cidadania
Fonte Correio Braziliense
Foto: Reprodução/Freepik







