Um verdadeiro reality show do crime, utilizando câmeras de última geração, supostas empresas privadas de outros estados do país e sem o conhecimento da polícia e do Poder Público monitoram clandestinamente motoristas da capital federal. O caso é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

De acordo com a corporação, as investigações começaram após uma operação deflagrada em junho do ano passado, em que foi desarticulado um grupo de hackers que revendia dados sigilosos de altas autoridades do país. Investigadores da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte) passaram a apurar violações da intimidade e privacidade da população do Distrito Federal. Entre elas, o videomonitoramento de veículos.

As câmeras descobertas pela polícia, que participavam desse esquema sofisticado das empresas, possuiriam leitores de caracteres (OCR) e programação de inteligência artificial, permitindo o reconhecimento de placas de veículos, invadindo a privacidade dos motoristas. De acordo com os investigadores, o monitoramento clandestino e indiscriminado eram vendidas em sites por R$ 150 a consulta.

Os anúncios, que eram espalhados pelas redes sociais e sites, onde diziam que o serviço era para “colaborar” na recuperação de veículos subtraídos. O caso chegou ao conhecimento de agentes da 9ªDP, que efetivaram a compra do serviço, por pagamento Pix, a fim de entender como funcionava a trama do esquema criminoso. Os investigadores utilizaram o carro de um dos delegados da unidade como forma de experimento e conseguiram verificar a rotina dele.

Toda a rotina do delegado foi enviada pelos criminosos por e-mail aos investigadores. A facilidade do esquema surpreendeu a polícia, já que o serviço pode ser usado por qualquer pessoa, inclusive por mal-intencionados.

Padaria e mecânica

Com as imagens em mãos da rotina do delegado da unidade, os investigadores começaram uma caça para encontrar as câmeras e começar desarticular o esquema. Em Taguatinga Norte, os agentes encontraram em uma padaria e uma mecânica da cidade, câmeras instaladas e direcionadas para a rua, captando todo o tráfego de veículos do local.

Aos investigadores, os proprietários disseram que estavam sendo pagos para deixar as câmeras nos seus estabelecimentos, mas informaram à polícia que não sabiam bem ao certo quem gerenciava o fluxo de dados nem para onde as imagens iriam. A 9ªDP descobriu que os proprietários dos sites pelas vendas aparentemente residem no Rio Grande do Sul.

Um relatório está sendo produzido pela delegacia e será entregue à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), indicando o mapeamento dessas câmeras, além dos responsáveis, o critério e o local de armazenamento das imagens coletadas.

De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), publicada em 2018, esse tipo de monitoramento indiscriminado é ilegal, pois pode ser deturpados e instrumentalizados para outras finalidades. O acompanhamento on-line da rotina de carros pode ser caracterizado como crimes de stalking.

Por Pablo Giovanni do Correio Braziliense

Foto: Reprodução / Reprodução Correio Braziliense

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