Dengue: especialistas e parlamentares avaliam ações científicas e governamentais

No terceiro painel do evento organizado pelo Correio, foram apresentadas técnicas de prevenção contra a doença

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O terceiro painel do CB.Debate Dengue — Uma luta de todos abordou, nesta quinta-feira (29/2), o tema A responsabilidade para os próximos anos. No evento, pesquisadores e parlamentares falaram sobre tecnologias e outras medidas para evitar a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, chikungunya, zika e febre amarela.

O professor da Universidade de Brasília (UnB) Rodrigo Gurgel Gonçalves apresentou ações científicas para o combate ao inseto, entre elas, uma que considera ser “um cavalo de Troia”. Segundo o especialista em parasitologia e medicina tropical, trata-se de um estudo de 2016 que usou estações disseminadoras de larvicidas, em São Sebastião (DF). Elas continham vasos plásticos com pano, inseticida e água. O custo do conjunto é de R$ 5, segundo o especialista, e deixa protegidas as pessoas que estivem dentro de um raio de 400 metros, a partir do ponto em que for instalado. Seu funcionamento consiste em atrair o Aedes (tanto macho como fêmea) e contaminá-lo com larvicida. O produto acaba levado pelo mosquito ao ponto onde coloca suas larvas, que terminarão mortas. “É uma estratégia tipo cavalo de Troia”, comentou o pesquisador, acrescentado que a taxa de sucesso média foi de 66% nas áreas trabalhadas.

A mesma experiência foi feita entre 2020 e 2022 na Estrutural (DF). Ela permitiu observar a influência da vulnerabilidade social para a proliferação do inseto. A combinação de coleta de lixo, saneamento básico e das estações resultou na sua diminuição. “Há grande importância da infraestrutura urbana no controle de mosquitos. Havia cinco vezes mais deles na parte sem saneamento básico do que na saneada”, relatou.

Outra opção apresentada por Gonçalves é a chamada borrifação residual intradomiciliar. Consiste, basicamente, na aplicação de inseticida diretamente nas paredes internas dos imóveis. Essa técnica, segundo o professor, é recomendada em locais com alta circulação de pessoas, como hospitais, escolas e Unidades de Pronto Atendimento. Ele ainda comentou que, junto ao Governo do Distrito Federal, está sendo pensado um plano de ações para acabar com os focos de proliferação. Avalia-se que ambos os métodos expostos pelo docente sejam utilizados.

Trabalho conjunto

No encontro, o epidemiologista Wildo Navegantes Araújo, também da UnB, chamou a atenção para a necessidade de recursos financeiros que permitam mais soluções que protejam a população contra a enfermidade.

“Vale a pena entendermos que gestão pública e privada, no Sistema Único de Saúde (SUS), não se faz apenas com a sociedade ou com Executivo. Ela também se faz com os parlamentares. Eles estão conseguindo recursos com as emendas destinadas para o combate da dengue e a fiscalização da execução do orçamento”, explicou o professor. “Então, é super importante que se mantenha (esse investimento), para dar suporte ao Executivo e fazer as atividades necessárias”, afirmou.

Navegantes reforçou ainda que o combate à dengue também depende do apoio da população. “Às vezes, nós não entendemos a importância de, por exemplo, usar 5 ou 10 minutos para cuidar de nossa casa. Não é nada demais passar os olhos na casa vendo o que fazer para que não tenhamos uma proliferação de mosquitos”, disse.

Ele acrescentou que informação de qualidade a respeito da doença é um fator essencial para que o país possa se livrar da epidemia de dengue. Analisou que a abundância de mídias sociais pode ser super positiva por um lado e negativa por outro. “O excesso de mídias sociais que nós temos atualmente pode ser super positivo para a divulgação do debate que estamos fazendo hoje. Mas também temos que combater as fake news”, pontuou. Navegantes recordou que, numa mesa anterior no mesmo evento, foi necessário explicar que ivermectina e cloroquina não curam a dengue. E lamentou que essa informação esteja sendo difundida.

Cuidado

Para o deputado federal Zacharias Calil (União Brasil-GO), que é médico, a imprensa tem o papel fundamental de informar e alertar a população sobre prevenção e cuidado com os focos do mosquito Aedes Aegypti. “A dengue vem aumentando não só em Brasília, mas no país inteiro. Por isso a importância dos meios de comunicação chamarem a atenção da sociedade em geral a respeito das medidas preventivas que devemos ter dentro de casa. Porque 75% das contaminações acontecem dentro das casas. Temos que ter cuidado com o lixo e com água parada nas calhas. Tudo isso pode ser prevenido com limpeza. Perder a vida para um mosquito é uma coisa muito séria”, defendeu.

O parlamentar afirmou que a vacina contra a dengue é uma estratégia complementar às demais ações de controle recomendadas e, por isso, é imprescindível que a população contribua para que o conjunto de medidas seja efetivo. “O Brasil está sendo o primeiro país do mundo a disponibilizar a vacina contra a dengue de graça pelo SUS, mas ela não te dá uma imunidade permanente. A vacina vai melhorar bastante, mas não agora”, declarou. Na avaliação do deputado federal faltaram ações básicas, por parte dos governos municipais, estaduais e federal para alertar a população sobre medidas como, por exemplo, não acumular lixo e evitar água parada.

Por sua vez, o deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ) defendeu que a vacinação contra a dengue seja disponibilizada para toda a sociedade em até dois anos. “A gente tem um avanço, do ponto de vista tecnológico, que é a vacina para a dengue. O que temos que fazer é que o ministério incorpore a vacinação em toda a população brasileira, em todos os locais e todas as faixas etárias”, defendeu o parlamentar.

O laboratório Takeda, que fabrica a Qdenga, tem divulgado que sua produção é limitada. E, desde que a vacina foi anunciada, o Ministério de Saúde destacou esse problema. Isso fez a pasta montar uma estratégia que priorizou alguns municípios. Além disso, o Executivo federal determinou a esse fornecedor que produzisse doses apenas para o SUS, sem incluir a rede privada. Outro alerta das autoridades é que a vacina ainda não foi testada em todas as faixas etárias.

De acordo com Doutor Luizinho, caso o ministério não disponibilize o imunizante em até dois anos para toda a população, o Congresso Nacional fará um projeto de lei “obrigando o país a fazer a aquisição de vacinas”.

*Estagiária sob supervisão de Manuel Martínez

Por Fernanda Strickland, Mayara Souto, Naum Giló, Isabel Dourado do Correio Braziliense

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense

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