Apelidado de Calçadão de Brasília por muitos dos frequentadores, os Eixos da Asa Norte e Asa Sul esteve repleto de manifestações culturais no último domingo (8). Os movimentos culturais e de ambulantes objetivam a regularização do Eixão do Lazer. O ato aconteceu uma semana depois da fiscalização feita pelo Departamento de Estradas e Rodovias (DER) com o Governo do Distrito Federal que interditou as atividades que ocorriam no dia primeiro de setembro.
Desde criança, a agrônoma Viviane Anjos, 39 anos, frequenta o Eixão cultural. Nesse último domingo ela estava lá com o cachorro, família, amigos e ‘tudo que tem direito’. “Eu nunca vi briga, eu nunca vi pessoas bêbadas aqui, nem nenhum tipo discussão”.
Para ela, o Eixão é um lugar muito democrático, com muitas atividades físicas, variedade de músicas, com estilos desde o rock, até a batucada. Viviane considera muito importante que as pessoas frequentem o Eixão. “É que elas lutem pela democracia, que elas venham pra cá, ocupem o espaço e que ele permaneça para todos”.
Maria Lúcia Pereira, 70 anos, é assistente social aposentada e mora na Asa Norte. Ela é frequentadora assídua do Eixão do Lazer. “E eu acredito que uma cidade sem cultura e sem música, é uma cidade morta. Temos que ter essa movimentação, essa alegria”. Maria considera que o Eixão do Lazer faz bem para a saúde física e mental.
Para ela, o Eixão é a praia do Brasiliense. “Essa rodovia fecha e se torna o calçadão da cidade. E neste lugar vem pobre, vem rico, vem todo mundo”. Maria afirma que o Eixão é um espaço de confraternização e que em todos os anos que esteve presente no evento, nunca viu nenhum tipo de violência e conflito acontecerem.
O educador social, Everardo de Aguiar, 67 anos, veio de Taguatinga para participar da manifestação e passear. “O Eixão é onde encontramos os amigos. Por exemplo, a Lucinha, reencontrei nesse domingo, nós somos domingos desde 1978”. Ele é Maria Lúcia estavam participando de uma atividade divertida no Eixão, com um “lambe-lambe” como aqueles antigos.
O Eixão recebe gente de todas as regiões administrativas do DF e entorno, o servidor público Pedro Rodrigues, 54 anos, por exemplo, saiu de Santa Maria. “Este é o local do povo, na verdade o Eixão do Lazer é um embrião de uma nova sociedade”. Para Pedro não adianta privar as pessoas de ter cultura e isso é o que ele veio reforçar. “A unidade do povo é muito importante, estou muito alegre de ter comparecido ao Eixão”.
Eixão Vivo
Leonardo Rodrigues, é representante da Ocupação Eixão Vivo, e um dos organizadores do Ocupa Eixão. O grupo foi responsável pela articulação entre diferentes coletivos, alguns partidos políticos, ativistas e artistas. “Com isso a gente montou a programação justamente para trazer esse recado da ocupação do Eixão Vivo”.
Como Leonardo destacou, o Eixão já é ocupado por vários coletivos, vários projetos, como o Choro no Eixo, Rock No Eixo, Samba No Eixo e Eixão do Jazz. “Fora outras apresentações e ensaios que acontecem. Mas durante a manifestação de domingo, por exemplo, além desses citados, também tivemos uns coletivos de música eletrônica, como o Confronto, Pavio e Beco Elétrico”.
Leonardo aponta que houve um esforço maior esse final de semana para mobilizar mais gente, é para consolidar um senso maior de comunidade, de coletividade. “Além de uma responsabilidade a respeito da limpeza e segurança, para que a gente passe um recado que essa ocupação é positiva e traz benefícios para a cidade e para quem mora aqui”.
Para Márcio Marinho, um dos fundadores do Choro no Eixo, não se tratava de um protesto, esse domingo eles fizeram uma manifestação sonora e cultural. “O protesto existe para a mudança do decreto. Porque o decreto ainda está aí de não pode vender bebida alcoólica no eixão”. O que ele acredita é que todos os envolvidos no Eixão do Lazer querem um diálogo com o governo, com a população e os moradores que estão reclamando. “E eu acho que tem que envolver a Secretaria de Cultura, Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Secretaria do Turismo, Secretaria do Esporte, e até o Ministério da Cultura, porque tem que haver um diálogo e uma ação em conjunto”.
Yuri Rocha, representante do Beco Elétrico, um dos coletivos que participou da manifestação cultural, contou que o grupo é muito comprometido com o direito pela cidade e fizeram questão de estar presentes. “Eu acredito que como somos nós que fazemos a cidade, somos nós que fazemos a cultura, e a gente tem direito de estar aqui, de fazer o nosso rolê acontecer, de se divertir, proporcionar cultura e momentos para as pessoas”.
Dudão Melo, do coletivo Super Jazz, faz parte da produção do Eixão do Jazz, e no domingo também incentivou a manifestação cultural no Eixão. “Esse domingo foi um dia estratégico e fundamental, porque isso já era para ter acontecido há dois anos atrás”. Para ele, é necessário o movimento coletivo de buscar reconhecimento para o Eixão.
“Nós precisamos ser ouvidos, porque isso aqui é uma uma plataforma maravilhosa, não só de de lazer mas de Cultura para o DF”. Alem disso, Dudão aponta que o Eixão também é uma plataforma que gera dinheiro para o DF, assim como reconhecimento e turismo. “O Eixão é um dos cartões postais da cidade”.
Incerteza sobre o futuro
Hosana Coelho é uma das organizadoras do Rock no Eixo. Ela contou que conseguiu uma licença provisória para poder exercer as atividades nesse último domingo, graças ao deputado Ricardo Valle (PT), que fez contato com o DER. “Mas semana que vem, por exemplo, a gente não estará no mesmo lugar, porque já tinha um outro evento autorizado para lá”. O evento aconteceu no gramado da 204 Norte, mas na próxima semana ainda é incerto se eles vão conseguir um lugar.
Justamente pela incerteza é que o Ocupa Eixão aconteceu, como explica Hosana. “Nós não temos certeza do que vai acontecer semana que vem. Muitos outros movimentos não estão funcionando, são poucos os que estão. Hoje só temos o jazz, o samba, o choro, a gente aqui e o Complexo Itinerante na Asa Sul”. Eventos como o Quadradinho no Eixo estão de fora, não tem autorização para estar operando.
Ela lembra ainda que os food trucks não têm autorização, é a venda de bebidas alcoólicas também está vetada. “A grande venda e manutenção das cervejarias artesanais é através do Eixão do Lazer. Então a gente precisa que eles também tenham direito, mesmo porque o Eixão está fechado, isso não é uma rodovia. Isso é um espaço aberto para o Lazer”.
Por Amanda Karolyne do Jornal de Brasília
Foto: Amanda Karolyne/Jornal de Brasília / Reprodução Jornal de Brasília