Em entrevista ao programa CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília —, em 2019, o cineasta Cacá Diegues — que morreu nesta sexta-feira (14/2), aos 84 anos — exaltou o cinema brasileiro e afirmou que as produções nacionais “não vai morrer nunca”.
À época, ela criticou o desmonte paulatino das políticas de cultura pelo governo Bolsonaro. “Em vez de dar pancada na gente e prender, como faziam na ditadura, eles simplesmente tiram as possibilidades, acabando com os recursos. Desarmam a cultura com a destruição de seus instrumentos de trabalho”, criticou o cineasta.
O cineasta também analisou a combinação entre cultura, conservadorismo e religião. “Tem uma frase do Sérgio Buarque de Hollanda de que gosto muito. Diz que, no Brasil, não existe conservadorismo, existe atraso. Esse pensamento conservador existe porque o país está muito atrasado”.
Na ocasião ele ainda comentou sobre o termo “patrulhamento ideológico”, criado por ele há cerca de 50 anos. Para ele, que o que difere a perseguição ao pensamento contrário dos tempos da ditadura para os atuais é que, hoje, embute fundamentalismo religioso e tem um caráter político semelhante ao fascismo. “Eu não gosto da palavra resistência, porque a resistência é a ocupação de algum lugar que você já ocupava antes. E não é isso, porque agora não estamos ocupando. Eu não me sinto da resistência, eu me sinto da oposição, eu sou contra o que ele (Jair Bolsonaro) está fazendo”.
Natural de Maceío, Cacá Diegues foi um dos fundadores do movimento Cinema Novo, ao lado de cineastas como Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo Cesar Saraceni e Joaquim Pedro de Andrade. Durante a entrevista ele também falou sobre o movimento. O cineasta explicou que a diferença entre o Cinema Novo e a nova geração é fato dele ser justamente um movimento. “Hoje não existe movimento. De qualquer maneira, o momento mais rico do cinema brasileiro é esse que estamos vivendo e, paradoxalmente, está sendo assolado pelas políticas públicas”.
Por Correio Braziliense
Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense