As doenças respiratórias durante o carnaval, assim como os cuidados que devem ser tomados devido ao calor e à secura durante a folia, foram temas abordados pelo diretor técnico do Hospital Anchieta, Deivson Mundim, no programa CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília, nesta quinta-feira (27/2). Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, o médico também comentou sobre a importância da vacinação e o perigo do consumo excessivo de energéticos.
Tivemos uma epidemia terrível de dengue em 2024. Neste ano, qual é maior preocupação para o carnaval?
Ainda estamos monitorando a dengue e temos observado um efeito positivo da vacina. A distribuição pelo sistema público evitou um cenário agressor da doença. O grande ponto de atenção para este carnaval são as doenças transmitidas por gotículas, contato físico ou por transmissão direta, como em contaminações de alimento. Temos um grande “boom” de doenças relacionadas ao trato respiratório e gastrointestinal, sobretudo em adultos, porém, na área pediátrica, também há indícios de grandes contaminações neste período de volta às aulas e feriados prolongados.
Qual a importância da vacinação contra doenças como covid, H1N1 e febre amarela para quem vai pular o carnaval?
A aglomeração no carnaval é inevitável. A vacinação não previne as doenças, porém, ela impacta na gravidade dos casos. Então, quem se vacina contra a covid pode ter um quadro mais leve, assim como as influenzas “A” e “B” e outros subtipos, como a H1N1 e a H2N3. A imunização evita impactos funcionais na qualidade de vida e reduz o risco de mortalidade. A vacina da febre amarela está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela tem um calendário vacinal definido — duas doses programadas até os cinco anos, uma dose de reforço na idade adulta e, acima de 60 anos, é importante uma avaliação médica para determinar a necessidade de mais uma dose. Para as pessoas que vão transitar em áreas que registraram casos, é importante ter atenção ao cartão vacinal. A recomendação é atualizar esse cadastro dez dias antes da exposição.
Quais as recomendações de hidratação e alimentação para os foliões?
Brasília está passando por um período de calor sem chuva, o que proporciona a secura. Esse fenômeno facilita a invasão de agentes infecciosos no trato respiratório. É importante alimentar-se adequadamente, com bastante frutas e legumes e, durante os blocos, ter uma barra de cereal para regular a fome. Tentar conciliar a ingestão de álcool com água, pelo menos de dois a três litros por dia. Ficar de olho em comidas de rua também é muito importante. Se for consumir em uma barraca ou de um ambulante, certifique-se sobre a temperatura, o acondicionamento daquele alimento e, antes de comer, confira se o cheiro está suspeito.
Durante a folia, a energia da pessoa acaba, em algum momento, e o costume é recorrer aos energéticos. Há riscos para a saúde?
A cafeína é a principal substância presente nessas bebidas. Temos um caso recente, no interior da Bahia, de uma menina que teve uma parada cardiorrespiratória devido ao uso excessivo da bebida. As substâncias estimulantes aumentam a frequência cardíaca, oferecendo o risco de um colapso. Até mesmo pessoas consideradas saudáveis do ponto de vista cardiovascular devem consumir com moderação. Pessoas hipertensas, idosas e crianças, nem pensar.
Quais são as principais doenças respiratórias que podem acometer crianças e bebês no carnaval?
A criança é um organismo em formação, não somente do ponto de vista emocional e cognitivo, mas também do ponto de vista imunológico. Crianças de até 12 anos são um público de grande preocupação. Nessa faixa etária, os vírus (influenza, parainfluenza, rinovírus) geram uma resposta inflamatória exuberante. Crianças de até dois anos costumam sofrer com compactação de secreção, o que dificulta o trânsito respiratório.
O que pode ser feito para evitar contaminações em crianças?
Assim que perceber que gripou ou que a garganta está arranhando, evite contato com a criança ou o bebê e tente usar máscara para evitar a contaminação da criança. Além disso, é importante conferir com um médico qual é o tipo de infecção, porque a inflamação pode ser causada pela influenza sozinha ou pela influenza com outros vírus. Para esses casos, existem recomendações para o uso de medicações específicas definidas por grupos de risco e pelo histórico clínico do paciente.
No carnaval, as pessoas costumam parar de tomar as medicações corriqueiras. Essa prática representa algum risco?
É muito perigoso. Posso citar um exemplo do uso de coagulante: a supressão de uma única dose pode gerar um trombo, o que pode acarretar acidente vascular cerebral (AVC). Em casos psiquiátricos e de pressão, nos quais os remédios trabalham com doses controladas, é importante manter a medicação para não arriscar agravar o quadro.
Há alguma recomendação para as pessoas que vão passar muito tempo em pé, para evitar trombose e outras doenças circulatórias?
Para uma pessoa saudável, que se hidratou muito bem durante a folia e se alimentou bem durante o dia, será necessário apenas um descanso adequado. As recomendações são simples: chegar em casa, tomar um banho e colocar as pernas para cima para relaxar e promover a circulação no corpo.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
Por Luiz Fellipe Alves do Correio Braziliense
Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press / Reprodução Correio Braziliense