Metanol: que exames podem identificar sintomas de intoxicação?

Especialistas alertam para a importância do diagnóstico rápido, que pode ser fator decisivo entre reversão do quadro ou agravamento para complicações graves

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O Brasil volta a enfrentar casos de intoxicação por bebidas alcoólicas adulteradas com metanol, substância altamente tóxica usada na indústria. O Ministério da Saúde atualizou na última sexta-feira (10/10), o número de notificações de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica. Até o momento, 246 notificações foram realizadas, sendo 29 casos confirmados e 217 em investigação.

O estado de São Paulo está investigando 160 notificações, o que representa 73,73%. Em seguida, aparecem Pernambuco com 31 suspeitas, Rio Grande do Sul (4), Mato Grosso do Sul (4), Piauí (4), Rio de Janeiro (3), Espírito Santo (3), Goiás (2), Alagoas (1), Bahia (1), Ceará (1), Minas Gerais (1), Rio Grande do Norte (1) e Rondônia (1).

Em relação aos óbitos, cinco foram confirmados no estado de São Paulo e 12 seguem em investigação, sendo um no CE, um em MG, um no MS, um em PE e seis em SP.

Em razão da gravidade, o episódio foi classificado pelo Ministério da Saúde como um Evento de Saúde Pública (ESP), exigindo notificação imediata e resposta coordenada entre hospitais, centros de toxicologia e laboratórios especializados. Conforme a Nota Técnica nº 360/2025, os casos suspeitos e confirmados devem ser tratados e, imediatamente, informados às autoridades de saúde e ao Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox).

Ainda segundo a nota, pacientes com suspeita de intoxicação devem submetidos imediatamente a exames laboratoriais com urgência. O Brasil Apoio, que integra a AFIP, reforça que esses testes são fundamentais para orientar a conduta médica e garantir o início rápido do tratamento. “O exame frequentemente realizado na suspeita de intoxicação é a gasometria arterial”, explica Cláudia Partel, patologista clínica e coordenadora médica do Brasil Apoio.

“O diagnóstico mais seguro combina o histórico clínico com sintomas típicos – como visão turva ou embaçada, cafaleia, dor abdominal e confusão mental – e o resultado da gasometria arterial mostra acidose metabólica com alto anion gap, típica das intoxicações pelo metanol e não observada nas intoxicações isoladas pelo etanol”, completa.

Como identificar?

Entre os principais exames, estão a gasometria arterial, que identifica acidose metabólica com alto anion gap, principal sinal de intoxicação.

A gasometria arterial é realizada à beira do leito e pode indicar a intoxicação antes mesmo da confirmação laboratorial. “Embora a dosagem de metanol seja importante, a gasometria já mostra uma alteração típica, a acidose metabólica, e orienta o início imediato do tratamento”, explica Soraya Sgambatti, infectologista e gerente médica do Brasil Apoio.

De acordo com o Ministério da Saúde, resultados com pH abaixo de 7,3 e bicarbonato inferior a 20 mEq/L são indicativos de intoxicação. Nesses casos, o tratamento deve começar imediatamente.

Ainda como exames complementares, podem ser feitos testes de:

  • Eletrólitos
  • Ureia
  • Creatinina
  • Glicemia
  • Função hepática
  • Cálculo do gap osmolar e ânion gap, que indicam o grau de toxicidade

Importância do diagnóstico

Quando ingerido, o metanol é convertido pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, substâncias responsáveis por causar danos neurológicos, visuais e renais. Mesmo pequenas quantidades podem gerar acidose metabólica severa, cegueira irreversível e risco de morte.

Soraya destaca ainda que o Brasil Apoio reduziu o prazo de liberação dos resultados dos exames toxicológicos para apoiar o atendimento emergencial. “Em situações como essa, o tempo é decisivo. A liberação rápida dos resultados pode significar a diferença entre a reversão do quadro e o agravamento para complicações graves”.

O laboratório realiza a dosagem de metanol em duas matrizes biológicas, sangue e urina, cada uma com finalidades distintas. “A urina é mais usada em intoxicações ocupacionais, enquanto o sangue é indicado para casos graves, como as ocorrências recentes envolvendo bebidas adulteradas”, explica Thiago Guerino, biomédico e gerente de produto do Brasil Apoio.

O alerta dos especialistas é claro: evite bebidas de procedência duvidosa. Se houver sintomas como visão turva, náusea, dor abdominal ou confusão mental após o consumo de álcool, procure atendimento imediatamente e informe o tipo e o local da bebida ingerida. “O diagnóstico precoce e os exames corretos são fundamentais para salvar vidas”, reforça Cláudia.

Por Painel da Cidadania

Fonte Correio Braziliense

Foto: wirestock/FreePik

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