Menopausa: 10 mitos perigosos que atrapalham a saúde

Especialistas desmistificam equívocos comuns e alertam para a importância do acompanhamento médico para uma vida mais saudável no climatério

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A menopausa é um período de transição natural na vida da mulher, mas ainda é cercada por uma série de mitos e preconceitos que prejudicam a busca por tratamento e a qualidade de vida. 

“A menopausa pode produzir sintomas em muitas partes do corpo e, às vezes, de maneiras inesperadas”, disse Rebecca Thurston, reitora assistente de pesquisa em saúde da mulher na Universidade de Pittsburgh.

Nesta semana, um artigo recente do New York Times, intitulado “10 menopause myths the experts can’t stand” (10 mitos da menopausa que os especialistas não suportam), teve grande repercussão nas redes sociais ao destacar que muitos estereótipos sobre ondas de calor e caos hormonal estão profundamente estabelecidos, mas poucos são totalmente precisos. Para esclarecer dúvidas e combater a desinformação, ouvimos especialistas brasileiros que adicionam perspectivas sobre o tema.

Os 10 mitos da menopausa desvendados

Mito 1: são apenas ondas de calor

As ondas de calor são, de fato, um sintoma clássico, afetando até 80% das mulheres. No entanto, como apontado pela JoAnn Manson, endocrinologista de Harvard, “vários sintomas menos conhecidos também estão associados à menopausa, incluindo insônia, alterações de humor, confusão mental, secura vaginal, dores nas articulações e muito mais.”

A ginecologista Beatriz Tupinambá, por sua vez, afirma que “muitos sintomas da menopausa são subestimados e ignorados. Muitas vezes, não só por pacientes, mas também por profissionais de saúde, infelizmente.” Ela destaca a névoa mental, dificuldade de tomar decisões, alterações no sono, ansiedade, irritabilidade, depressão, cansaço extremo e sintomas geniturinários, como a secura vaginal e infecções urinárias recorrentes como frequentemente negligenciados.

Mito 2: “tudo” é um sintoma da menopausa

Se, por um lado, muitos sintomas são subestimados, por outro, há o risco de atribuir qualquer mal-estar à menopausa. Anna Barbieri, obstetra e ginecologista em Nova York, mencionada no NY Times, alerta: “Agora o pêndulo está pendendo mais para ‘tudo é menopausa e perimenopausa’, e isso também é uma simplificação exagerada.” 

A endocrinologista Fernanda Parra reforça essa visão: “É muito comum que sintomas como fadiga, insônia, irritabilidade e ganho de peso sejam automaticamente atribuídos à menopausa, mas eles também podem estar ligados a outras condições, como hipotireoidismo, resistência à insulina ou depressão.” Ela enfatiza que um endocrinologista pode ajudar a diferenciar a origem dos sintomas através de exames.

Mito 3: a terapia hormonal é perigosa

Após um estudo de 2002 que gerou receios sobre o aumento de câncer de mama e coágulos sanguíneos, o uso de hormônios despencou. Contudo, a visão atual é mais híbrida. “Na realidade, afirmam os especialistas, os benefícios, incluindo alívio de ondas de calor e secura vaginal, além da redução do risco de osteoporose, superam os baixos riscos para a maioria das mulheres na faixa dos 40 e 50 anos que apresentam sintomas disruptivos”, afirmam os especialistas ouvidos pelo NY Times.

O ginecologista André Luiz Afonso de Almeida, docente da UNICEPLAC, concorda: “O uso da terapia hormonal no climatério (TH) bem indicada, melhora a qualidade de vida da mulher.” Beatriz Tupinambá complementa: “A reposição hormonal deve ser indicada para todas as mulheres que não tiverem contraindicação”, citando câncer ou suspeita de câncer hormônio-dependente, doença hepática ativa e eventos cardiovasculares recentes como as principais restrições.

Mito 4: hormônios são a única opção de tratamento

A terapia hormonal não é a única solução. Para quem não pode ou não quer usar hormônios, “existem alternativas”, segundo a Jill Liss, professora da Universidade do Colorado. O New York Times cita o uso de gabapentina, paroxetina, terapia cognitivo-comportamental e exercícios respiratórios para ondas de calor, além do fezolinetano, aprovado em 2023 e produtos com ácido hialurônico para secura vaginal.

Mito 5: tratamentos “naturais” são mais seguros

“Só porque algo pode ser comercializado como natural, isso não significa necessariamente que seja seguro”, alerta JoAnn Manson no New York Times, acrescentando que “o arsênico também é natural.” Muitos suplementos “naturais” não possuem evidências científicas sólidas e sua produção é pouco regulamentada, o que pode levar à contaminação. 

Beatriz Tupinambá esclarece que os hormônios bioidênticos, com a mesma estrutura molecular dos produzidos pelo corpo, são seguros quando bem indicados e em doses corretas, mas ressalta que “eles são produzidos no laboratório, portanto, não são uma forma natural.”

Mito 6: você só precisa ser persistente

“Muitas pacientes estão determinadas a superar a menopausa sem ajuda. Mas pesquisadores dizem que isso pode levar a sérios problemas médicos”, adverte o NY Times. Ondas de calor frequentes podem estar ligadas a doenças cardiovasculares e memória mais fraca. 

Fernanda Parra reforça que “ignorar os sintomas ou não buscar orientação médica pode fazer com que a mulher desenvolva problemas mais sérios, como doenças cardiovasculares (infarto, AVC, diabetes), osteoporose, distúrbios do sono ou transtornos de humor e metabolismo.”

Mito 7: os sintomas não duram muito

Muitas mulheres esperam que as ondas de calor sejam curtas, segundo os especialistas, mas elas duram mais de sete anos em média, às vezes, muito mais. Outros sintomas, como infecções urinárias recorrentes, podem persistir por tempo indeterminado. André Luiz Afonso de Almeida lembra que os sintomas podem começar antes do esperado, “não é anormal apresentar sintomas da perimenopausa entre 35 e 45 anos.”

Mito 8: sua vida sexual nunca mais será ótima

Dor durante o sexo e queda na libido são comuns na menopausa, mas não significam o fim da vida sexual satisfatória. Beatriz Tupinambá detalha uma abordagem “multiterapêutica”, incluindo reposição hormonal sistêmica e local, fisioterapia pélvica, laser vaginal, hidratação com ácido hialurônico ou óleos naturais, e, em alguns casos, reposição de testosterona. Ela ainda destaca a importância de terapia sexual, suplementação, sono adequado, atividade física e controle do estresse.

Mito 9: mulheres na perimenopausa não conseguem engravidar

“Mesmo que as menstruações sejam pouco frequentes, você pode engravidar durante a perimenopausa”, alerta o New York Times. Beatriz Tupinambá enfatiza que “até chegar na menopausa, há risco, sim, de gravidez” e que “métodos contraceptivos devem ser mantidos até a menopausa”. André Luiz Afonso de Almeida reforça que muitas mulheres param de usar métodos contraceptivos, levando a gestações não planejadas com maiores riscos para mãe e bebê.

Mito 10: passar pela menopausa é sempre horrível

Embora os sintomas sejam reais, “eles não contam toda a história”, ressalta o NY Times. Muitas mulheres, como Rebecca Thurston apontou, sentem-se “mais autênticas e autoconfiantes” e “se importam menos com o que os outros pensam, e isso é muito libertador.” 

Fernanda Parra reforça que “a menopausa não precisa ser sinônimo de perda de qualidade de vida.” É um momento crucial para cuidar da saúde, com alimentação balanceada, exercícios e monitoramento de pressão arterial e colesterol, como pontuado no artigo do New York Times.

Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca

Por Painel da Cidadania

Fonte Correio Braziliense      

Foto: Blog Daquilo

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