O combate do câncer de mama no Brasil ainda enfrenta um grande obstáculo: a desigualdade no acesso aos exames de diagnóstico. Dados do Atlas da Radiologia no Brasil 2025, elaborado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), mostram que o país tem 6,8 mil mamógrafos, mas estão distribuídos de forma desigual. No Sudeste, é concentrado quase metade dos aparelhos, enquanto o Norte e o Centro-Oeste registram índices muito abaixo da média nacional.
A disparidade também aparece entre os sistemas público e privado. Mulheres que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) têm três vezes menos acesso à mamografia do que aquelas com planos de saúde. Ou seja, mesmo que o Brasil tenha mais de 6,8 mil mamógrafos em funcionamento, a maioria está fora do alcance da maior parte da população.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 73 mil mulheres recebem o diagnóstico todos os anos no país. Em setembro, o Ministério da Saúde atualizou as diretrizes de rastreamento, recomendando que mulheres de 40 a 49 anos, mesmo sem sintomas, também realizem mamografias. Essa faixa etária concentra cerca de 23% dos casos da doença, e a detecção precoce aumenta significativamente as chances de cura. Na prática, porém, muitas mulheres ainda enfrentam dificuldades para ter acesso ao exame.
“O Brasil até dispõe de um número razoável de equipamentos, mas ainda enfrenta sua má distribuição e dificuldades de acesso. O rastreamento precisa ser equitativo e efetivo. Isso exige planejamento, integração entre os setores e políticas públicas que garantam acesso universal à mamografia”, afirma o presidente do CBR, Rubens Chojniak.
Segundo o estudo, o Sudeste abriga 3.084 dos 6.826 mamógrafos do país. Sozinho, o estado de São Paulo concentra 1.523 aparelhos, mais do que toda a região Norte somada, que conta com apenas 482 (sendo 11 Roraima, 23 no Acre e 26 no Amapá).
Números
Quando se compara o número de aparelhos com o tamanho da população, o retrato é ainda mais desigual. A densidade nacional é de 3,21 aparelhos por 100 mil habitantes. Roraima apresenta a menor proporção (1,53 por 100 mil pessoas), seguido do Ceará (2,23) e do Pará (2,25). Já a Paraíba lidera com 4,32, seguida pelo Distrito Federal (4,26) e pelo Rio de Janeiro (3,93).
Já no setor público, do total de mamógrafos do país, apenas 3.412 estão disponíveis no SUS, responsável por atender cerca de 75% dos brasileiros. Isso significa que há apenas 2,13 aparelhos por 100 mil pessoas que dependem do sistema público, número considerado insuficiente por especialistas.
No Acre, por exemplo, dos 23 equipamentos existentes, só sete estão acessíveis pelo SUS, o que resulta em menos de um aparelho para cada 100 mil habitantes. Em Roraima, a proporção é parecida. No Distrito Federal, apenas 15% dos mamógrafos podem ser utilizados na rede pública.
“O serviço que atende três quartos da população precisa ter oferta proporcional de equipamentos. Sem isso, o acesso universal à prevenção se torna impossível”, alerta Chojniak.
Por outro lado, estados como Paraíba, Amazonas e Santa Catarina aparecem com índices mais equilibrados, tendo mais mamógrafos disponíveis na rede pública do que na privada.
Enquanto isso, quem tem plano de saúde vive outra realidade. O setor privado, que atende só 25% da população, tem 6,5 mamógrafos por 100 mil habitantes, três vezes mais do que o SUS. Em estados como Acre e Maranhão, há mais de 30 aparelhos na rede privada para cada um disponível no sistema público.
Obstáculos
O câncer de mama é o tipo que mais mata mulheres no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 73 mil novos casos são registrados por ano. Quando descoberto no início, o tratamento costuma ser mais simples e as chances de cura ultrapassam 90%. Mas, sem exame, o diagnóstico chega tarde demais.
Além do sofrimento, o atraso pesa no bolso do sistema de saúde. Casos avançados exigem cirurgias maiores, quimioterapia, radioterapia e internações prolongadas, tratamentos muito mais caros do que a detecção precoce.
Especialistas defendem que a solução não está apenas em comprar novos aparelhos, mas em fazer os que já existem funcionarem melhor e chegarem a mais pessoas. Entre as estratégias estão o uso de unidades móveis de mamografia, laudos a distância (telerradiologia) e parcerias público-privadas para atender regiões com pouca estrutura.
Também é preciso capacitar equipes locais, ampliar o transporte de pacientes e monitorar a realização dos exames. As medidas fazem parte das diretrizes nacionais de detecção precoce e já foram testadas em algumas regiões com bons resultados.
Por Painel da Cidadania
Fonte Correio Braziliense
Foto: Fazer mamografia aos 40 pode reduzir risco de morte