A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) reconheceu a queda significativa no número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA), fenômeno que reflete uma tendência nacional. De acordo com dados fornecidos pela SEEDF, de 2021 a 2024, houve uma queda de 28,90% no número de matrículas.
A SEEDF atribui essa queda a uma série de fatores, especialmente às dificuldades enfrentadas por estudantes trabalhadores, que muitas vezes priorizam o sustento de suas famílias em detrimento da continuidade dos estudos. Em resposta, a secretaria tem implementado diversas medidas para reverter esse cenário e incentivar a adesão à modalidade. Entre as estratégias adotadas, destaca-se a descentralização da oferta de vagas, com a disponibilização da EJA em 101 escolas espalhadas por todo o DF, e a possibilidade de matrícula em qualquer momento do ano letivo.
Ana Leonel, é supervisora pedagógica no CESAS. Ela relata que a EJA vem sofrendo com a falta de investimento em todo o país,ao longo de vários anos. No período de pandemia, houve sim, uma queda nas matrículas. Porém, o resultado disso se atribui principalmente a falta de políticas públicas governamentais e chamamentos eficazes para atrair os estudantes, “Na EJA não existe um público só, aqui atendemos idosos, trabalhadores, pessoas em liberdade assistida, situação de rua, pessoas com deficiência e também aqueles jovens que não conseguiram ou não puderam se adaptar no ensino regular”.
Aos olhos da docente, a dificuldade dos estudantes é conciliar o subemprego e escola, ou seja, quando eles não permanecem estudando por necessidades econômicas isso contribui diretamente na queda de matriculas. “Depois da pandemia, muitos estudantes ficaram desempregados, e agora tem como prioridade, o trabalho. Ganhar o pouco que seja, para sobreviver, acabam deixando a escola de lado, por conta da necessidade de fazer uma renda. É preciso ter o acesso à educação e que criemos condições para que estes sujeitos possam permanecer na escola e viver dignamente.”
O impacto da queda nas matrículas também é sentido dentro das salas de aula. Sheila Rodrigues de Souza, professora temporária no Centro de Ensino Fundamental 01 do Paranoá, relata que, além da evasão dos alunos, é notada a falta de professores. “Notamos a evasão de alunos, até porque faltam professores. Na escola onde estou, alguns alunos estão tendo aula apenas dois dias na semana. Há séries em que não há presença de nenhum professor. Os alunos chegam à escola e voltam para casa desalentados, sem aula”, descreve Sheila.
Sheila sugere que uma busca ativa mais eficaz e a maior divulgação do EJA em mídias acessíveis, como TV e rádio, poderiam atrair mais estudantes, especialmente aqueles com idade mais avançada e baixo grau de instrução.
Ela também defende a integração do EJA com serviços como CRAS e Defensoria Pública, além da necessidade de investimentos na infraestrutura das escolas. Sheila acredita que a expansão de programas como o “Pé de Meia” e a promoção de atividades voltadas ao empreendedorismo podem ser essenciais para tornar a EJA mais atraente e relevante para os alunos. “O EJA é um resgate, não só do ponto de vista da alfabetização, mas da autoestima desses alunos”, conclui.
Com o objetivo de combater a evasão e atrair novos alunos, a SEEDF lançou o Plano de Ação “Busca ativa na EJA”. A iniciativa incluiu a impressão de mil panfletos, 10 mil cartazes e 130 banners, que foram distribuídos durante as campanhas de matrícula realizadas no início de cada semestre letivo de 2023. O trabalho de divulgação foi intensificado em áreas de grande circulação, como terminais rodoviários, agências dos trabalhadores, CRAS, CREAs, Restaurantes Comunitários, entre outros.
Além das campanhas de matrícula, a SEEDF tem fortalecido a formação continuada dos profissionais que atuam com a EJA e estabelecido parcerias, como as tratativas com a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES) para a implementação da Bolsa Alfabetização. Este benefício, destinado aos integrantes de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família com mais de 15 anos que frequentam a EJA, visa incentivar a permanência dos alunos na escola.
Por Jornal de Brasília
Foto: Jornal de Brasília / Reprodução Jornal de Brasília